São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


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ANÁLISE

Dilema é combinar moralidade e eficiência

MARCELO BERABA
diretor da Sucursal do Rio

Todos os últimos governadores e secretários de Segurança do Rio viveram o mesmo dilema que vem corroendo o governo Anthony Garotinho: como combinar, no combate ao crime, moralidade e eficiência?
Virou um axioma na política fluminense a idéia de que moralidade e eficiência são incompatíveis. Uma parte da polícia seria honesta, mas inexperiente ou ingênua ou despreparada. Outra, eficiente, de resultados, mas heterodoxa nos seus métodos e tolerante nos costumes. Esta segunda polícia passou a ser chamada de banda podre.
O termo foi usado pela primeira vez para designar os policiais corruptos do Rio pelo delegado Hélio Luz, hoje deputado estadual pelo PT. Ele era então chefe de Polícia Civil do governo Marcello Alencar (94-98) e achou que poderia obter resultados no combate à criminalidade apenas com os delegados mais novos, da turma de 94. Eram policiais recém-incorporados, ainda sem vícios. Mas sem experiência.
Quando explodiram os sequestros na cidade e as pressões de todos os lados, Hélio Luz teve de recorrer à banda podre em busca de resultados. Ele achou que era possível tê-la sobre controle. E tentou a equação: no comando, os jovens delegados; na execução, um grupo de policiais experientes, mas sob suspeita -conhecido como grupo Astra.
Não deu certo. Nem o crime diminuiu, nem a corrupção acabou. Hélio Luz acabou deixando o governo.
O que está acontecendo no governo Garotinho é parecido, só que as contradições ficam mais evidentes em razão do forte e inédito papel exercido pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares.
Ele é o grande formulador de uma política que se pretende ética e que se apresenta como a solução para resolver o paradoxo da polícia carioca. Ele acha possível moralizá-la e torná-la eficiente simultaneamente.
Mas quem está na frente de combate e tem a obrigação de baixar os índices de criminalidade é Josias Quintal, e não Soares. Não se pode acusar Quintal, oriundo da PM, de pertencer à banda podre. Mas, como todos os seus antecessores, ele firmou uma aliança, explícita ou implícita, com a polícia de resultados.
Só que os resultados, como sempre, acabam sendo desastrosos. No caso do Rio, os principais indicadores de violência continuam altos e vários em ascensão. E, no final, o quadro não muda: continua a corrupção, ninguém vê a eficiência.


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