São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Incêndio atinge a favela Paraguai

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

Um incêndio destruiu cinco barracos de madeira na favela Paraguai, em São Paulo, a mesma que está sob proteção da polícia por causa da guerra entre traficantes de drogas.
Duas famílias escaparam sem ferimentos porque foram acordadas pelos policiais que estão 24 horas no local.
O fogo começou de madrugada, segundo o Corpo de Bombeiros, pelos fundos da favela, atrás do complexo Heliópolis (zona sudeste da capital).
A polícia investiga as causas do incêndio, atribuído pelos próprios moradores da favela à guerra do tráfico no local.
A favela Paraguai foi desocupada durante o Carnaval. A maioria dos 390 donos de barracos abandonou o lugar porque teriam recebido ameaças dos traficantes de uma favela vizinha, a de Heliópolis -a maior do complexo.
Os demais barracos não foram destruídos ontem porque houve a intervenção dos bombeiros. As casas estão próximas e, por isso, o fogo se espalhou rápido.
O incêndio aconteceu cinco dias depois de a polícia começar uma série de prisões de supostos integrantes da quadrilha do traficante Sujeirinha, apontado como uma das lideranças em guerra.
""Eles foram presos, mas os amigos estão soltos. Qualquer garoto que trabalha para eles pode ter feito isso para ganhar uns trocados", disse um dos moradores da favela Paraguai, que não quer ser identificado com medo de represálias.
A polícia, por enquanto, não admite a possibilidade de que o incêndio tenha sido criminoso. ""Temos de esperar o relatório da perícia para saber quais foram as causas", disse o delegado Ricardo Stanev, do 56º DP (Vila Alpina).
Há dois motivos para a guerra do tráfico na região: vingança e disputa por mais espaço, de acordo com a própria polícia.
O grupo de Sujeirinha estaria vingando as mortes de três rapazes assassinados pela quadrilha do traficante Barriga, da favela Paraguai. Do lado de Barriga, há o interesse em mudar a área de atuação, uma vez que sua favela será vizinha de uma nova cadeia.
Desde dezembro, 26 pessoas morreram no complexo Heliópolis. Os crimes são atribuídos à guerra entre os chefes do tráfico.
""Acordei com o barulho das telhas estourando e com os policiais batendo na minha porta", disse a doméstica Maria Caetano dos Santos, 41, grávida de dois meses, que escapou do incêndio.
Ao contrário dos demais moradores, ela e o marido não saíram da favela antes do Carnaval. Ontem, porém, o casal mudou de idéia e procurava outro local para morar. ""Fico na rua, mas não durmo aqui."
Cinco carros da PM estão na favela desde a semana passada. Eles vão ficar, segundo o governo do Estado, até a prisão dos líderes do tráfico.



Texto Anterior: Família é morta a tiros em São Vicente
Próximo Texto: Claudia Ohana nega que portava maconha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.