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Para economista, imposto alto não eleva contrabando
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A economista norte-americana Hana Ross é uma ave
rara entre seus pares: ela estuda o impacto das políticas
de saúde sobre fumo nas finanças para a American
Cancer Society e para o Banco Mundial.
Sua tese de doutorado foi
sobre o efeito do preço do cigarro e das políticas de saúde
entre os jovens fumantes de
Chicago. Para Ross, não há
evidências científicas de que
o aumento de impostos eleve
o contrabando, como ela
conta a seguir.
(MCC)
FOLHA - A Receita Federal brasileira, que cuida de tributos, diz
que um aumento forte do cigarro
elevaria o contrabando. Isso é
verdade?
HANA ROS - Não há evidências de que isso seja certo.
Contrabando não é resultado de impostos. Ele está mais
relacionado com outros fenômenos, como corrupção
política, falta de controle nas
fronteiras, falta de legislação
que puna os contrabandistas
com rigor.
FOLHA - Não seria caro demais
para um país com tantos pobres
como o Brasil controlar todas as
fronteiras e eliminar a corrupção
policial?
ROS - Pode custar caro, mas
o investimento se paga a curto. Isso aconteceu na Inglaterra. O governo gastou alguns milhões de libras em medidas repressivas. O que
foi arrecadado com a redução da sonegação pagou o investimento em três anos. Em
1996, o cigarro contrabandeado ocupava 15% do mercado inglês. Em 2006, esse
índice caiu para 2%.
FOLHA - Há algum país no mundo em que o aumento de preço
não tenha sido acompanhado de
queda de consumo?
ROS - Não conheço nenhum
caso de aumento de preço do
cigarro sem redução de consumo. Há casos em que a elevação da taxa é tão baixa que
o consumo não se altera. É
por isso que o aumento de
impostos tem que ser alto.
FOLHA - É possível estabelecer
um preço de cigarro para que seja
certo que haverá redução de consumo?
ROS - Essa equação não
existe, infelizmente. O que
sabemos é que o preço tem
de ser alto o suficiente para a
pessoa pensar nas conseqüências maléficas que o fumo fará no seu bolso e na sua
saúde. Só assim você consegue desestimular os setores
mais frágeis que aderem ao
tabaco: os mais pobres e os
mais jovens.
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