São Paulo, segunda-feira, 17 de março de 2008

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Para economista, imposto alto não eleva contrabando

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A economista norte-americana Hana Ross é uma ave rara entre seus pares: ela estuda o impacto das políticas de saúde sobre fumo nas finanças para a American Cancer Society e para o Banco Mundial.
Sua tese de doutorado foi sobre o efeito do preço do cigarro e das políticas de saúde entre os jovens fumantes de Chicago. Para Ross, não há evidências científicas de que o aumento de impostos eleve o contrabando, como ela conta a seguir. (MCC)  

FOLHA - A Receita Federal brasileira, que cuida de tributos, diz que um aumento forte do cigarro elevaria o contrabando. Isso é verdade?
HANA ROS
- Não há evidências de que isso seja certo. Contrabando não é resultado de impostos. Ele está mais relacionado com outros fenômenos, como corrupção política, falta de controle nas fronteiras, falta de legislação que puna os contrabandistas com rigor.

FOLHA - Não seria caro demais para um país com tantos pobres como o Brasil controlar todas as fronteiras e eliminar a corrupção policial?
ROS
- Pode custar caro, mas o investimento se paga a curto. Isso aconteceu na Inglaterra. O governo gastou alguns milhões de libras em medidas repressivas. O que foi arrecadado com a redução da sonegação pagou o investimento em três anos. Em 1996, o cigarro contrabandeado ocupava 15% do mercado inglês. Em 2006, esse índice caiu para 2%.

FOLHA - Há algum país no mundo em que o aumento de preço não tenha sido acompanhado de queda de consumo?
ROS
- Não conheço nenhum caso de aumento de preço do cigarro sem redução de consumo. Há casos em que a elevação da taxa é tão baixa que o consumo não se altera. É por isso que o aumento de impostos tem que ser alto.

FOLHA - É possível estabelecer um preço de cigarro para que seja certo que haverá redução de consumo?
ROS
- Essa equação não existe, infelizmente. O que sabemos é que o preço tem de ser alto o suficiente para a pessoa pensar nas conseqüências maléficas que o fumo fará no seu bolso e na sua saúde. Só assim você consegue desestimular os setores mais frágeis que aderem ao tabaco: os mais pobres e os mais jovens.


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