São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2004

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HABITAÇÃO

Cerca de 2.500 famílias ocupam terreno de editora católica desde sábado; não houve confronto com a polícia

Sem-teto esperam apoio da igreja em invasão em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Desde a madrugada de sábado, integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) permanecem em um terreno que pertence à editora Paulinas, ligada ao grupo católico Filhas de São Paulo, conhecidas como irmãs Paulinas. Lideranças do movimento, no entanto, afirmam esperar apoio da Igreja Católica na invasão, baseados em um documento divulgado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) no início do mês.
Em sua mensagem, a CNBB manifesta seu apoio aos sem-teto, aos sem-terra e a outros grupos da sociedade. "A CNBB, em sua carta ao povo brasileiro, disse que apóia os movimentos populares que agem de maneira pacífica. Desse modo, esperamos o apoio da entidade e já estamos em negociação com alguns setores progressistas da igreja", diz Guilherme Boulos, um dos coordenadores do movimento.
Representantes da CNBB não foram localizados pela reportagem até o fechamento desta edição para comentar sobre a ação e as declarações do grupo. Os proprietários da editora Paulinas também não foram encontrados.
O terreno invadido fica atrás do complexo de edifícios onde funciona a editora, próximo ao km 19 da rodovia Raposo Tavares, em São Paulo. Na região, há muitas favelas e ocupações irregulares. Segundo Boulos, cerca de 2.500 famílias estão na área invadida- a maior parte delas veio das favelas e barracos das redondezas.
A chegada do movimento ao terreno foi pacífica. A polícia não ficou sabendo da invasão durante a madrugada e apareceu no terreno apenas na tarde de sábado. Não houve confronto e as famílias continuaram no local, que possui apenas um campo de futebol utilizado pelos moradores da região.
Ontem à tarde, enquanto crianças jogavam futebol no campinho, algumas famílias ainda montavam barracas de lona e outras decidiam se iriam ou não permanecer no acampamento. "A chuva e a vinda da polícia desanimou um pouco as pessoas, mas fizemos uma assembléia e vamos continuar. Estamos dispostos a negociar", afirmou Boulos.
No dia 19 de abril, diversos grupos de moradia realizaram em São Paulo uma ocupação em terrenos do governo do Estado - invadiram inclusive um quartel abandonado da PM, no centro da cidade. No entanto, toda a movimentação prevista para a última quarta-feira, Dia Nacional de Luta pela Moradia, terminou com apenas uma passeata de 400 pessoas na avenida Paulista.


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