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SEGURANÇA
Vítima foi atingida por tiro quando fazia compras, na zona norte de SP; moradores fecharam marginal Tietê em protesto
PM é preso por morte de dona-de-casa
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A vítima do disparo, uma dona-de-casa de 60 anos, morava em
uma região de São Paulo onde denúncias de abusos policiais são
freqüentes. O autor do tiro é um
policial militar de Guarulhos
(Grande SP) -cujos integrantes
da corporação são alvo de investigação sobre a existência de um
grupo de extermínio- que estava fora da sua área de atuação.
Anteontem à noite, um incidente uniu as duas histórias. A dona-de-casa Raimunda Olimpia de Jesus Furtado foi comprar pão em
um mercado do Cingapura Bela
Vista, no Parque Novo Mundo
(zona norte de SP). O soldado da
PM Fábio Trevisoli era um dos
quatro policiais do 15º Batalhão
de Guarulhos que, fora de sua
área de atuação, estariam atrás de
um grupo de suspeitos.
No mercado, a dona-de-casa foi
atingida nas nádegas por um tiro.
O disparo veio da arma do soldado. Ela morreu no pronto-socorro à 1h30 de ontem. Trevisoli foi
preso em flagrante e indiciado pela Corregedoria da PM por homicídio culposo (sem intenção). O
soldado afirmou que o tiro foi acidental e ocorreu quando ele estava correndo com a arma na mão.
Os outros três policiais -o tenente Alberto Suganuma, o cabo
Hélio Correia e o soldado Joanito
Queiroz- foram detidos administrativamente.
Para testemunhas do episódio,
o tiro não foi acidental e houve
omissão de socorro por parte dos
policiais. Maria Adilma Cordeiro
Furtado, 20, que trabalha como
caixa no mercado, foi a primeira a
socorrer a dona-de-casa.
"Ela foi atingida logo que entrou
no mercado", disse. Segundo a
funcionária, o carro da PM freou
bruscamente e logo em seguida
houve um único disparo. Segundo Maria Furtado, o tiro teria
acontecido quando os policiais
ainda estavam no carro.
Dois PMs, também segundo ela,
entraram no estabelecimento logo depois e chegaram a passar
duas vezes pela vítima, que estava
caída no chão.
"Eu pedi socorro e eles saíram
sem falar nada", disse a funcionária. Nerivane Costa da Silva, 23,
dona do mercado, disse que foi
atrás dos policiais para que eles
socorressem a vítima, mas ela diz
que o carro da PM saiu em disparada. A dona-de-casa foi levada
por vizinhos para o hospital.
Em protesto, moradores fecharam uma pista da marginal Tietê,
que fica nas proximidades, por
quatro horas. Foram feitas barricadas com paus, pedras e pneus
incendiados. A manifestação só
foi interrompida com a chegada
da tropa de choque da PM.
Raimunda Furtado tinha cinco
filhos e sete netos. A maior parte
de sua família estava, no momento do incidente, em um culto em
uma igreja evangélica que fica ao
lado do mercado. Anteontem, ao
contrário do que fazia normalmente, ela não quis ir à igreja por
causa do frio. Sozinha em casa, resolveu comprar pão.
Para o ouvidor da Polícia de São
Paulo, Itajiba Farias Ferreira Cravo, a Corregedoria da PM falhou
por ter indiciado o soldado apenas por homicídio culposo. "Homicídio culposo com omissão de
socorro? Isso é um desrespeito à
inteligência da população de São
Paulo", afirmou Cravo.
A Ouvidoria e outras entidades
ligadas aos direitos humanos denunciaram, em março deste ano,
abusos policiais e mortes suspeitas cometidos no Parque Novo
Mundo por policiais da 6ª Companhia e da Força Tática do 5º Batalhão. Seis policiais foram afastados, segundo a Corregedoria.
"Parece que as denúncias feitas
pelas entidades não têm efeito e os
abusos continuam", disse Cravo.
Para o ouvidor, também tem de
ser investigada a ligação entre o
incidente de sábado e a atuação
do grupo de extermínio. "Esse tipo de ação pode ser um recado,
uma tentativa de intimidação das
testemunhas", disse.
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