São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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VIOLÊNCIA 2
Segundo estudo baseado em crimes registrados em 1995, brancos matam brancos e negros matam negros
Criminosos fazem "segregação racial"

da Reportagem Local

A maior parte das vítimas de assassinos brancos é branca e a maioria das vítimas de homicidas negros é negra. Essa "segregação racial" entre criminoso e vítima é um dos resultados de uma pesquisa realizada sobre os homicídios registrados em 95. Renato Sergio de Lima estudou todos os 4.602 boletins de ocorrência de homicídio registrados na cidade em 1995, para uma dissertação de mestrado sobre conflitos sociais para o curso de pós-graduação em sociologia da USP. Da análise dos dados, brotaram resultados que mostram uma concentração de crimes intra-raciais. Lima, no entanto, ainda não se arrisca a tirar conclusões do estudo. "A pesquisa não foi concluída, mas uma das possíveis explicações seria que o homicídio ocorre preferencialmente entre pessoas conhecidas. O que dá para verificar é que negros matam negros e brancos matam brancos predominantemente", afirma o pesquisador. Lima concentrou seus estudos sobre os 3.889 registros de homicídios de autoria desconhecida, que são 85% do total. Em 25,9% desses casos, após investigação policial ou por meio de testemunhas, a polícia consegue identificar o assassino. A cor é uma das primeiras características reveladas. Nesse universo, exatamente a metade (50%) das vítimas de negros também era de cor negra. As vítimas brancas foram 39,8%, e outros 10,2% não tiveram a cor identificada. Nos casos em que o assassino foi considerado branco, as vítimas eram brancas em 56,8% dos inquéritos. Negros foram mortos por brancos em 39% dos crimes estudados. Em 4,2% dos homicídios, a cor da vítima não foi determinada. A pesquisa de Lima enfrenta o mesmo problema do estudo de Maria Inês Barbosa: a cor não é auto-atribuída, ou seja, é a polícia ou a testemunha que determina as cores de vítima e homicida. "Uma das surpresas que eu tive nesse estudo foi que os assassinos identificados como negros não foram mais numerosos. Imaginava que, pela visão que a polícia tem do problema, isso ocorresse." (RV)



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