São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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VIOLÊNCIA 3
Falta de informação sobre raças em documentos dificulta, por exemplo, políticas públicas de saúde
Pesquisador defende "divulgação da cor"

da Reportagem Local

A pesquisa de Maria Inês Barbosa revelou algo mais que a desigualdade nas condições de morte entre negros e brancos. Segundo pesquisadores de problemas raciais, o estudo mostra a importância da existência do quesito cor nos documentos oficiais. "É essa carência que faz com que revelações tão importantes das diferenças raciais, como as mostradas pela pesquisa, nunca tenham sido apontadas antes", diz a psicossocióloga Edith Piza, pós-doutorada em relações de gênero, raça e cor pela USP. Desde a década de 70 até dois anos atrás, segundo Edith, não houve atribuição de cor em certidões de nascimento. "Isso foi decidido, na época, para que a pessoa que ia registrar seu filho não se sentisse ofendida." A autora da pesquisa, Maria Inês Barbosa, diz que o Brasil ainda trata a cor em seus documentos como se isso fosse uma questão moral. "O quesito raça, biologicamente, não tem validade há muito tempo, mas socialmente é muito importante como meio de exclusão." A falta desses dados dificulta, por exemplo, a elaboração de políticas públicas de saúde. Segundo Maria Inês, há pesquisas que mostram a maior incidência de hipertensão entre negros. "Nos EUA, há políticas específicas para essa população, de forma a minimizar essa diferença biológica. No Brasil, se não há quesito cor nem mesmo em uma ficha de entrada do hospital, como detectar a incidência de doenças?", pergunta Maria Inês. Mudança
Parte desse problema está sendo alterado. Desde julho de 96, por iniciativa do GTI (Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra), as certidões de nascimento e atestados de óbito passaram a ter, obrigatoriamente, declaração de cor. O IBGE também incluirá, no próximo censo, do ano 2000, modificações para quantificar melhor a população de origem negra no país. A primeira medida será fazer constar a pergunta raça/cor em todos os questionários. No censo de 1991, o quesito só constava em 25% dos questionários. Consultado sobre o resultado da pesquisa, José Gregori, secretário nacional dos Direitos Humanos, disse que irá encaminhar os dados da pesquisa para a próxima reunião do GTI. (RV)



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