São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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Modelo divide especialistas

da Reportagem Local

Embora considerem o modelo do Juquery falido, especialistas ouvidos pela Folha divergem sobre o fechamento da instituição.
O pano de fundo para a discussão é o movimento antimanicomial, que defende a substituição dos hospitais psiquiátricos.
Em tramitação no Congresso Nacional desde 1989, projeto de lei de autoria do deputado Paulo Delgado (PT-MG) propõe acabar com o modelo de tratamento baseado apenas na internação. A proposta do deputado sintetiza em parte a proposta antimanicomial.
O médico psiquiatra e diretor do Instituto Franco Basaglia, do Rio, Pedro Gabriel Delgado, diz, por exemplo, que hospitais como o Juquery têm que ser substituídos por modelos que não criem a dependência do paciente, levando-o a ficar, em alguns casos, mais de 30 anos numa instituição.
Por esse modelo, o doente não ficaria internado. Receberia atendimento nos chamados hospitais-dia e em ambulatórios e passaria a receber recursos e moradias coletivas pagas pelo Estado.
"Modelos fechados como o do Juquery só pioram a situação do paciente", diz.
Em casos mais graves, como crises psicóticas, por exemplo, o doente ficaria internado nos próprios hospitais públicos ou em enfermarias especializadas até que a crise fosse debelada.
Opinião semelhante tem o psiquiatra Nacile Daúd Junior, diretor da ONG (Organização Não-Governamental) Associação SOS Saúde Mental.
Segundo ele, com recurso semelhante ao orçamento anual do Juquery -R$ 12 milhões- seria possível desenvolver esse novo modelo, acabando com a internação dos pacientes na instituição.
Na contramão do movimento antimanicomial, o Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) defende a modernização dos hospitais e a ampliação do número de leitos para doentes mentais.
O chefe do departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Wagner Gattaz, por exemplo, diz que "ao invés de fechar hospitais, é preciso dobrar o número de leitos".
Ele diz que, no Brasil, existe 0,36 leito para cada mil habitantes. A OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza um leito para cada mil habitantes.
Na sua opinião, o fechamento de hospitais psiquiátricos pode levar à criminalização do doente.



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