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INCULTA & BELA
Crase e comparações
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Na última coluna, vimos
alguns casos de estruturas de
comparação. Vamos continuar essa conversa.
Antes que me esqueça, é bom
responder a uma pergunta
clássica: "Ela sabe mais do que
eu" ou "Ela sabe mais que eu"?
Em suma, nas comparações, o
que se usa: "do que" ou "que"?
Tanto faz. Não faltam exemplos de bons autores para abonar as duas formas.
Mas vamos ao que promete o
título. Ouvimos na escola o
professor dizer que não ocorre
crase antes de palavra masculina. Não deixa de ser verdade.
Crase, na origem, significa
"fusão, mistura". Em gramática, quando se pensa em crase,
pensa-se basicamente na fusão
de duas vogais iguais.
O caso mais comum é o da fusão da preposição "a" com o artigo feminino "a": "O livro pertence à diretora".
O verbo "pertencer" rege a
preposição "a" (algo pertence a
alguém). A preposição se funde
com o artigo "a", exigido pelo
substantivo "diretora".
O velho artifício da troca do
substantivo feminino por um
masculino equivalente e de
mesma natureza prova a ocorrência da fusão: "O livro pertence ao diretor". "Ao" (a+o)
antes de masculino, "à" (a+a)
antes de feminino.
Não é difícil, pois, entender
por que não ocorre crase antes
de palavras masculinas. Em
"sal e pimenta a gosto", "ir a
pé", "traje a rigor", o "a" não
passa de mera preposição. Não
existe artigo feminino antes de
substantivos masculinos.
Até aí, tudo bem. Mas pense
na seguinte frase: "Sua proposta é idêntica---dos concorrentes". Como você preencheria o espaço?
Os imediatistas certamente
responderiam que se preenche
com "a", sem acento indicador
de crase. Afinal, "dos" é palavra masculina e, ainda por cima, está no plural.
Como diria mestre Cony, ledo
e ivo engano. Na verdade, há
uma palavra omitida, já citada: "Sua proposta é idêntica à
(proposta) dos concorrentes".
O nome adjetivo "idêntica"
rege a preposição "a" (se algo é
idêntico, é idêntico a). Essa
preposição se funde com o "a"
que representa "proposta". O
acento indicador de crase é
mais do que obrigatório.
O artifício do masculino também ajuda a provar a ocorrência de crase: "Seu projeto é
idêntico ao (projeto) dos concorrentes". No masculino "ao"
("ao projeto"), no feminino "à"
("à proposta").
Na onda do jogo de ontem, lá
vai mais um exemplo: "A camisa do time colombiano é semelhante à do Palmeiras".
Acho que você já pode resolver o problema sozinho e compreender por que esse "à" recebe acento grave, acento indicador de crase. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna
às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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