São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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Casarão desaba e fere quatro em São Paulo

Prédio na avenida Liberdade havia sido invadido por famílias sem-teto; vítimas tiveram somente ferimentos leves

Prefeitura interditou local e removeu moradores ontem de manhã; o imóvel, que estava deteriorado, deveria ser desocupado em janeiro

Danilo Verpa/Folha Imagem
Bombeiros trabalham à procura de possíveis vítimas nos escombros do casarão que ruiu ontem de madrugada na av. Liberdade


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parte de um antigo casarão de dois andares invadido por mais de 40 famílias desabou no início da madrugada de ontem na av. Liberdade, centro de São Paulo, deixando quatro feridos.
Entre os feridos está um menina de cerca de um mês que estava com os pais num dos quartos do segundo andar. Na queda, L. foi atingida na cabeça por uma porta de armário. Levada ao hospital, a avaliação era de que não havia nada grave.
A Polícia Civil e a Subprefeitura da Sé interditaram o local. O prédio havia sido invadido há mais de três anos por sem-teto, e a reintegração de posse ocorreria em janeiro. A estrutura estava deteriorada e remendada por pedaços de madeira.
O prédio tinha quartos com até 12 pessoas, num total superior a 150 moradores, segundo Jussara Gierlaine Vieira, 25, mulher do "zelador" e que usava a frente do casarão como uma pequena loja de doces.
Segundo a Subprefeitura da Sé, assistentes sociais foram ontem de manhã oferecer auxílio para as famílias. A maioria delas teria para onde ir, mas abrigos da prefeitura foram colocados à disposição.
A queda da parte frontal do casarão foi precedida por estalos nas paredes e um estrondo. Com a rede elétrica rompida, os moradores ficaram no escuro.
Mãe de 4 filhos, Juberlita da Silva Bonfim, 32, havia retirado, no dia anterior, do hospital Beneficência Portuguesa, um de seus bebês gêmeos, com 30 dias de vida, que nasceram prematuros. O irmão já havia dormido por lá outras noites.
"Acordei com todo mundo gritando "está caindo", mas estava tudo escuro. O pessoal saiu correndo, mas eu não achava meus filhos", relatou.
Os bombeiros foram ao local e vasculharam os escombros, inclusive com cães, para tentar identificar supostas vítimas. A médica Daniela Paoli, do Resgate, diz que, além do bebê de um mês, um rapaz de 23 anos, Robson Martins, foi encaminhado ao hospital com escoriações, sem gravidade. Outras duas jovens que estavam diante do casarão machucaram os pés, porém não quiseram ser atendidas pelos bombeiros. "Foi muita sorte não ter ocorrido nada pior", afirmou Paoli.
Maria Catiele, 18, e Eduardo Lins de Araújo, 23, dormiam ao lado do filho de um ano e quatro meses e não ouviram nada. Foram acordados pelos bombeiros. "Eu estava só de cueca. O bombeiro falou: "Não vai sair assim, pega um lençol pra se cobrir, né'", contou Araújo.
Diferentemente dos que participaram da invasão do casarão há mais de três anos, os dois tiveram que pagar R$ 850 aos antigos donos de seu quarto para morar no local, onde estavam havia três meses. "Aqui é assim, seu eu for sair também vou vender", explicou Catiele.
As despesas mensais de quem morava no casarão, localizado na altura do número 338 da avenida Liberdade, diante de um CCCA (Centro Comunitário da Criança e do Adolescente, que tem a prefeitura paulistana como parceira em atividades de assistência social), se limitavam à água.
O casal não sabia ontem que destino teria. O salário de R$ 540 que Araújo ganha por mês é a única renda da família e, diz ele, insuficiente para pagar até uma pensão. Na noite de ontem, decidiram ficar na calçada. O filho foi deixado dormindo na casa de um vizinho.

Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, da Reportagem Local


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