São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 1998.



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PERIGO NAS RUAS 4
Belém é a capital brasileira com pior índice de mortes no trânsito, com 28,2 vítimas a cada 10 mil veículos
Para cada morto na estrada, há 6 na cidade

da Reportagem Local


O sucesso brasiliense na redução de acidentes de trânsito é exemplar porque, para cada pessoa que morre vítima de acidente nas rodovias, morrem seis nos centros urbanos.
Cidade cujo Plano Piloto tem 99% de pavimentação e foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer com amplas avenidas de até seis faixas de rolamento, em alguns pontos do centro de Brasília pode-se correr a até 160 km/h.
Apesar de ser um terreno favorável onde se poderia travar a guerra urbana do trânsito entre pedestres e motoristas, o Distrito Federal não figura entre os núcleos urbanos com a pior relação entre acidentes fatais e frota de veículos.
As campeãs
Belém (PA) é a capital brasileira com trânsito mais violento. Ali, morreram em 96 28,2 pessoas para cada grupo de 10 mil veículos, segundo pesquisa do Denatran. Em Brasília morreram em média 9,4 pessoas por grupo de 10 mil veículos registrados.
Depois de Belém, é em Fortaleza, capital do Ceará, que transitam os motoristas relativamente mais violentos do país. Em 96, ano do último levantamento fechado pelo Denatran, morreram 23 pessoas para cada grupo de 10 mil veículos.
Em São Paulo, naquele mesmo ano, morreram em média 4,5 pessoas por 10 mil veículos registrados. Vitória (ES) é a capital brasileira de trânsito mais ameno. Em cada grupo de 10 mil veículos registrados no Estado em 96, morreram 3,1 pessoas.
Estresse feminino

A mortandade no trânsito urbano, seis vezes maior do que nas estradas, e o maior número relativo de mortes em capitais menores têm diversas explicações.
Uma delas é o número de carros que transitam nas cidades todos os dias -quase 30 vezes maior do que o número de carros que circulam diariamente nas estradas.
Em cidades como São Paulo, com 10 milhões de habitantes e 4,7 milhões de veículos registrados até 96, o trânsito anda a uma média de 40 km/h e, assim, reduz-se o risco de acidente fatal em uma colisão.
Nas estradas, morre-se mais dentro dos carros -vítimas que não conseguem se safar dos acidentes nos quais seus automóveis estavam envolvidos. Nas cidades, a maior vítima é o pedestre.
A partir do segundo semestre deste ano, o Denatran vai começar a operar o Registro Nacional de Vítimas de Trânsito, segundo José Roberto Souza Dias, do Denatran.
Ele é um sistema de coleta de dados sobre acidentes automobilísticos e suas vítimas que vai rastrear o tratamento e a sobrevida dos feridos após os acidentes, inclusive nos hospitais.
Com isso, diz Souza Dias, espera-se confirmar ou desmentir a tese segundo a qual 60% das vítimas que sobrevivem a acidentes de trânsito carregam sequelas físicas para o resto da vida.
"E mais: queremos saber se realmente os acidentes com mulheres no volante aumentam na hora do almoço, devido ao estresse urbano e familiar ao qual a mulher é submetida porque precisa trabalhar fora, pegar ou deixar filhos na escola e cuidar da casa", explica.
Duplicação da frota
Se for mantido o índice de crescimento da frota de veículos no Brasil, que em 1960 era de 508.608 veículos, saltou para 6.227.672 em 75 e triplicou 15 anos depois para 18.267.245 em 90, o país poderá estar com suas ruas e avenidas paradas em uma década. O Denatran estima que em 2008 a frota brasileira de automóveis será de 22.084.891 veículos.
"Precisamos mudar a matriz do transporte brasileiro. A carga deve passar a ser transportada por hidrovias e em navios, nas cidades é preciso adotar o transporte coletivo de massa e as estradas precisarão ser melhor aparelhadas para receber os carros de passeios mais seguros mas também bem mais velozes do que os atuais. Se não repensarmos tudo isso agora, dentro de dez anos viveremos num inferno", prevê o diretor do Denatran.



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