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CRIMES INVISÍVEIS
Em 2001, CPI para apurar suposta maquiagem em ocorrências foi rejeitada no colégio de líderes da Assembléia
Investigações anteriores foram barradas
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que nem chegou
a ser criada e uma resolução do
governo que ficou só no papel.
Assim fracassaram duas tentativas de esclarecer dúvidas sobre a
elaboração de estatísticas criminais em São Paulo, principalmente em relação aos casos registrados como encontro de cadáver e
morte a esclarecer.
O questionamento das estatísticas de homicídios dolosos não é
uma novidade em São Paulo. Em
2001, o jornal "Diário de S. Paulo"
denunciou suposta maquiagem
de boletins e apresentou oito casos suspeitos. A denúncia motivou um pedido de CPI do deputado Vanderlei Siraque (PT), então
vice-presidente da comissão de
segurança da Assembléia.
Em abril de 2002, reportagem
da Folha Ribeirão identificou 37
ocorrências de assassinato em 11
cidades do interior paulista que
não existiam nas contas oficiais
do governo do Estado.
Em 2001, Siraque conseguiu as
assinaturas necessárias para a
criação de uma CPI, mas não conseguiu que ela fosse aprovada no
colégio de líderes da Assembléia
-que reúne líderes dos partidos.
"O governo tem maioria no colégio de líderes e conseguiu barrar
a CPI. Não adianta nem reapresentar o pedido, pois ele vai ser ignorado", afirmou o deputado.
Segundo ele, podem funcionar
cinco CPIs ao mesmo tempo. "A
Assembléia não está exercendo a
usa função fiscalizadora. As denúncias não foram levianas, mas
não foi possível investigá-las",
afirmou o deputado. "Por isso,
não dá para confiar nas estatísticas divulgadas pelo governo",
afirmou o deputado.
Resolução
Em dezembro de 2001, em meio
à polêmica sobre a suposta maquiagem de boletins, a Secretaria
da Segurança Pública publicou a
resolução 463, que criava o conselho de acompanhamento de estatísticas criminais.
Esse conselho seria integrado
por entidades de pesquisa, que
fiscalizariam os dados e a elaboração das estatísticas.
Mas, segundo o deputado e instituições de pesquisa, a resolução
não foi colocada em prática pela
secretaria -em janeiro de 2002, o
secretário Marco Vinicio Petrelluzzi foi substituído no cargo por
Saulo de Castro Abreu Filho.
As entidades chegaram a encaminhar à secretaria os nomes de
seus representantes. A pesquisadora Wânia Pasinato Izumino, indicada pelo Núcleo de Estudos da
Violência da USP (Universidade
de São Paulo), afirma que o conselho nunca operou.
"Não tem nenhum documento
dizendo por que não. Simplesmente, ele [o governo] ignorou a
resolução", diz a pesquisadora.
"Dizem que no Brasil as estatísticas são uma piada. Não há interesse de que conheçamos os fatos
porque eles [os governantes] não
querem ser cobrados."
Segundo a pesquisadora, não há
garantia de que a fiscalização por
amostragem feita pelo centro de
controle de qualidade de boletins
da Secretaria da Segurança Pública seja eficaz.
"Controle por amostragem? E o
restante, como fica? Qual a garantia que temos de que a fiscalização
por amostragem é eficaz?", questionou a pesquisadora, doutora
em sociologia.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do líder do governo na Assembléia, o deputado
Vanderlei Macris (PSDB). Ele, no
entanto, não respondeu aos recados deixados pela Folha.
(GILMAR PENTEADO E ALEXANDRE HI
SAYASU)
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