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Febem tem 14ª rebelião do ano
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela 14ª vez neste ano, o complexo de Franco da Rocha da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) foi palco de uma
rebelião. A "onda" de motins teve
início em 9 de janeiro, após a posse do novo presidente da entidade, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. O complexo, na Grande São
Paulo, teve em 2002 só um motim.
Um dos mais tensos dos últimos
tempos, o 14º motim teve início às
23h30 de anteontem na unidade
30, onde estão os chamados "reincidentes graves". Por quase quatro horas, cerca de 190 adolescentes permaneceram nos pátios,
queimaram colchões e tiveram
acesso aos telhados da unidade.
A rebelião só foi contida por
volta das 3h de ontem, com a entrada da tropa de choque da PM,
que deixou a unidade às 7h. Com
os adolescentes foi encontrada
uma arma. Seis dos 20 internos
que fugiram foram recapturados.
Segundo a Febem, houve troca
de tiros entre adolescentes e policiais. Três internos foram baleados (nos braços e nas pernas) e
socorridos no pronto-socorro da
cidade. Três vigilantes se feriram e
outros dois se intoxicaram com a
fumaça. Nenhum PM se feriu.
Em dezembro, a Justiça determinou o fechamento da unidade
30 até 18 de março. A Febem conseguiu derrubar a decisão com
uma liminar e promete o fechamento das unidades em datas distintas. A 30 deverá ser fechada até
julho, a 31, até o final do ano.
Apurações
A Febem diz que abriu sindicância sobre a rebelião de ontem. Entidades de defesa de direitos humanos e Ministério Público questionam o fato de uma arma ter entrado, pela segunda vez (e com
tanta facilidade), em Franco da
Rocha. Desde o início dos motins,
eles vêm apontando suposto esquema de funcionários da Febem
para facilitar fugas e rebeliões.
Investigações do Grupo de
Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado (Gaeco) apontam nesse sentido. Já foram ouvidos 15 internos e dois diretores do
complexo. Os promotores esperam começar a ouvir funcionários
da Febem a partir desta semana.
"Se a arma estava lá, é porque alguém a colocou lá dentro", diz o
promotor da Infância e Juventude
Wilson Tafner. Ele afirma também que a transferência de internos considerados perigosos para
unidades prisionais, caso de Fábio Paulino, 19, o Batoré, não reduziu o número de rebeliões.
Já o presidente do sindicato dos
funcionários da Febem, Antonio
Gilberto da Silva, diz que a situação é "grave", "crítica", mas exime os funcionários de culpa. Diz
que, se houver alguém envolvido
em esquemas, deverá ser punido.
Para Ariel de Castro Alves, da
Comissão de Direitos Humanos
da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), a situação "passou
de qualquer limite" em Franco da
Rocha e, se não houver reestruturação nos quadros, as unidades 30
e 31 tendem a repetir a trágica história da Febem Imigrantes, onde
houve, em 99, o mais grave motim
da história da entidade -com 18
horas, a destruição de três prédios
e a morte de quatro internos.
"O que aconteceu hoje [ontem"
demonstra a total falência da instituição. Franco da Rocha caminha para ser uma próxima Imigrantes, podendo chegar a uma
situação de morte de internos. É
preciso uma intervenção séria,
uma mudança completa", diz.
As unidades 30 e 31 já foram alvo de denúncias de maus-tratos e
tortura do Ministério Público, da
OAB-SP e da Comissão de Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas (ONU).
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