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SEGURANÇA
Ladrão diz aos 30 reféns que assalto era culpa do sistema e do governo; dez dos 17 apartamentos foram invadidos
Grupo faz arrastão em edifício de Moema
DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de cerca de dez homens armados que realizou um
arrastão na madrugada de ontem
em um edifício de Moema (zona
sul de São Paulo) usou um discurso "social" para justificar a ação.
Enquanto vigiava os 30 reféns
no refeitório, um dos ladrões disse que o assalto era culpa do sistema e do governo. Um dos moradores disse para ele trabalhar. A
resposta: "Eu não quero trabalhar, quero mordomia".
Os assaltantes permaneceram
durante cinco horas e meia no
edifício Ponte Vecchio e saíram
levando jóias e dinheiro de dez
dos 17 apartamentos -cada um
ocupa um andar.
A ação teve início às 4h45, quando um homem abriu um buraco
entre o alambrado e a cerca elétrica que fica acima do muro lateral
do prédio. De lá, foi até a entrada e
rendeu o porteiro. Ordenou a
abertura do portão para o resto da
quadrilha entrar. O grupo estava
fortemente armado e entrou em
dois carros, um Citröen C3 e um
Citröen Xsara Picasso.
O porteiro foi levado para uma
sala usada como refeitório na garagem. No lugar dele, os assaltantes colocaram um dos homens do
bando para não chamar a atenção
de quem passasse.
Quando os moradores chegavam ou saíam eram rendidos na
portaria e levados para a sala da
garagem. Como o acesso a cada
apartamento via elevador é feito
apenas por intermédio de uma senha pessoal do morador, que a digita e libera a porta, todos foram
obrigados a fornecer a combinação. Os bandidos entraram nos
apartamentos sem alarde.
Os assaltantes saíram do edifício por volta das 10h15, nos mesmos carros em que chegaram. Até
o final da tarde de ontem o condomínio não tinha informado o que
havia sido levado dos moradores.
Bem informados
Os apartamentos do edifício
Ponte Vecchio possuem quatro
suítes cada um e os moradores
desembolsam R$ 1.200 por mês só
com o pagamento do condomínio. A cobertura está desocupada.
As informações das características do prédio eram conhecidas
pelos bandidos, de acordo com o
zelador João José Silva, 36. Ele foi
uma das 30 pessoas feitas reféns
durante o arrastão ao prédio.
O zelador foi rendido por volta
das 7h30, quando passava pelo
hall do edifício, no momento em
que saía do local onde mora, dentro do prédio, rumo à igreja, onde
iria rezar com sua filha.
"Um sujeito estranho me olhou
e disse "bom dia, não fique nervoso, você sabe o que está acontecendo". Eu disse que sabia e só fiquei quieto", disse.
Segundo o zelador, parte dos
bandidos usava máscara, outra
estava de rosto descoberto. "Eles
ficavam a todo momento perguntando quem era o morador mais
rico do prédio", afirmou Silva.
Ainda de acordo com o zelador,
por volta das 10h, um dos homens
desceu e disse que faltava pouco
para o grupo ser libertado.
Não houve agressões, e o bando
fugiu sem que os moradores conseguissem anotar as placas dos
carros. Um empresário que chegava de viagem entrou no prédio
minutos depois de o bando ir embora, destrancou a sala onde se
encontravam as 30 pessoas e chamou a polícia.
Robin Hood
"Eles disseram que não queriam
nada de mim porque eu era pobre", afirmou o zelador. Os ladrões não tiveram escrúpulos, entretanto, de manter seu filho de
apenas dois anos refém.
No refeitório, os ladrões ofereciam, de forma irônica, crack, baseado e uísque às vítimas que estavam na garagem.
Apesar da cerca elétrica e do sistema de câmeras, os ladrões caçoaram do aparato e afirmaram
que a segurança era precária.
"Ninguém na vizinhança percebeu o assalto. O porteiro do prédio da frente veio emprestar uma
escada às 8h, mas ele não notou
porque o ladrão estava no banheiro da cabine", disse o zelador.
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