São Paulo, segunda-feira, 18 de abril de 2005

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SEGURANÇA

Ladrão diz aos 30 reféns que assalto era culpa do sistema e do governo; dez dos 17 apartamentos foram invadidos

Grupo faz arrastão em edifício de Moema

DO "AGORA"

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de cerca de dez homens armados que realizou um arrastão na madrugada de ontem em um edifício de Moema (zona sul de São Paulo) usou um discurso "social" para justificar a ação.
Enquanto vigiava os 30 reféns no refeitório, um dos ladrões disse que o assalto era culpa do sistema e do governo. Um dos moradores disse para ele trabalhar. A resposta: "Eu não quero trabalhar, quero mordomia".
Os assaltantes permaneceram durante cinco horas e meia no edifício Ponte Vecchio e saíram levando jóias e dinheiro de dez dos 17 apartamentos -cada um ocupa um andar.
A ação teve início às 4h45, quando um homem abriu um buraco entre o alambrado e a cerca elétrica que fica acima do muro lateral do prédio. De lá, foi até a entrada e rendeu o porteiro. Ordenou a abertura do portão para o resto da quadrilha entrar. O grupo estava fortemente armado e entrou em dois carros, um Citröen C3 e um Citröen Xsara Picasso.
O porteiro foi levado para uma sala usada como refeitório na garagem. No lugar dele, os assaltantes colocaram um dos homens do bando para não chamar a atenção de quem passasse.
Quando os moradores chegavam ou saíam eram rendidos na portaria e levados para a sala da garagem. Como o acesso a cada apartamento via elevador é feito apenas por intermédio de uma senha pessoal do morador, que a digita e libera a porta, todos foram obrigados a fornecer a combinação. Os bandidos entraram nos apartamentos sem alarde.
Os assaltantes saíram do edifício por volta das 10h15, nos mesmos carros em que chegaram. Até o final da tarde de ontem o condomínio não tinha informado o que havia sido levado dos moradores.

Bem informados
Os apartamentos do edifício Ponte Vecchio possuem quatro suítes cada um e os moradores desembolsam R$ 1.200 por mês só com o pagamento do condomínio. A cobertura está desocupada.
As informações das características do prédio eram conhecidas pelos bandidos, de acordo com o zelador João José Silva, 36. Ele foi uma das 30 pessoas feitas reféns durante o arrastão ao prédio.
O zelador foi rendido por volta das 7h30, quando passava pelo hall do edifício, no momento em que saía do local onde mora, dentro do prédio, rumo à igreja, onde iria rezar com sua filha.
"Um sujeito estranho me olhou e disse "bom dia, não fique nervoso, você sabe o que está acontecendo". Eu disse que sabia e só fiquei quieto", disse.
Segundo o zelador, parte dos bandidos usava máscara, outra estava de rosto descoberto. "Eles ficavam a todo momento perguntando quem era o morador mais rico do prédio", afirmou Silva.
Ainda de acordo com o zelador, por volta das 10h, um dos homens desceu e disse que faltava pouco para o grupo ser libertado.
Não houve agressões, e o bando fugiu sem que os moradores conseguissem anotar as placas dos carros. Um empresário que chegava de viagem entrou no prédio minutos depois de o bando ir embora, destrancou a sala onde se encontravam as 30 pessoas e chamou a polícia.

Robin Hood
"Eles disseram que não queriam nada de mim porque eu era pobre", afirmou o zelador. Os ladrões não tiveram escrúpulos, entretanto, de manter seu filho de apenas dois anos refém.
No refeitório, os ladrões ofereciam, de forma irônica, crack, baseado e uísque às vítimas que estavam na garagem.
Apesar da cerca elétrica e do sistema de câmeras, os ladrões caçoaram do aparato e afirmaram que a segurança era precária.
"Ninguém na vizinhança percebeu o assalto. O porteiro do prédio da frente veio emprestar uma escada às 8h, mas ele não notou porque o ladrão estava no banheiro da cabine", disse o zelador.


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