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Morre aos 75 o artista Geraldo de Barros
MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local
Morreu ontem em São Paulo o
artista plástico, fotógrafo, designer e industrial Geraldo de Barros.
Tinha 75 anos.
Ele sofreu uma embolia pulmonar (obstrução dos vasos sanguíneos do pulmão). Estava internado havia duas semanas no hospital
Beneficência Portuguesa por causa de uma hemorragia gástrica. Na
última semana, contraíra pneumonia. Será enterrado amanhã às
11h no cemitério São Paulo.
Barros foi um dos fundadores do
concretismo, movimento que mudou a arte brasileira nos anos 50
com obras que aliavam abstração
e rigor geométrico.
Nascido em Xavantes (SP), ele
começou a estudar pintura em
1947 com Yoshia Takaoka. A partir daí, teve uma carreira meteórica. Em 1950, fez sua primeira exposição, de fotos abstratas.
Barros via a fotografia como parente próxima da gravura. Fotografava detalhes que ninguém sabia de onde tinham saído, manipulava negativos, riscava-os.
Vistas hoje, são fotos assustadoras pela capacidade de extrair do
banal imagens que não se entregam à primeira vista.
Com essa exposição, ganhou
uma bolsa para estudar na Escola
Superior de Belas Artes em Paris.
Foi lá, em 1951, que ele conheceu
uma de suas maiores influências,
o artista suíço Max Bill, pai e teórico da arte concreta.
De volta ao Brasil em 1952, Barros passou a disseminar aqui os
princípios concretistas na arte. A
idéia básica do movimento era de
que toda a arte baseada na representação estava esgotada.
O mundo industrial e os novos
conhecimentos sobre o olhar exigiam uma nova arte. "A nossa inteligência não pode ser a de Leonardo (da Vinci). A história deu
um salto qualitativo: não há mais
continuidade!", defendia o Manifesto Ruptura, lançado em 1952
por Barros, Waldemar Cordeiro,
Lothar Charoux e Luís Sacilotto.
O manifesto foi um choque. À
época, Portinari e suas imagens da
pobreza, incensadas pelo Partido
Comunista, eram o sinônimo de
arte no Brasil.
Barros, ligado aos socialistas,
defendia outro tipo de militância.
Queria tirar a arte do cordão sanitário dos museus e disseminá-la
no cotidiano com móveis e objetos. Em 1954, ele criou a Unilabor,
uma cooperativa de móveis modernos que tentava levar adiante
essa utopia.
Em 1964, a utopia ganha escala
industrial com a criação da fábrica
de móveis Hobjeto, que provocou
uma reviravolta no design e na indústria.
Dois anos depois, Barros fundou
a Rex Gallery, com Wesley Duke
Lee e Nelson Leirner. Era uma galeria que debochava do mercado
de arte, com performances e maluquices típicas dos anos 60.
Na década seguinte, seus trabalhos se aproximaram da pop arte e
dos cartazes publicitários. O alvo
era a comunicação de massa.
Nos anos 80, Barros voltou ao
concretismo com novas provocações. Criava obras geométricas em
fórmica, tipo de trabalho que pode
ser multiplicado infinitamente.
Em 1987, com uma exposição na
Suíça, as fotos de Barros foram redescobertas. Já passaram por mostras na França, Alemanha e EUA.
A consagração definitiva está
agendada para 1999. O Museu
Ludwig (Alemanha), um dos mais
prestigiados da Europa, prepara
uma retrospectiva de Barros.
O artista estava tão animado que
voltara a criar. Com o lado direito
do corpo paralisado desde 1983
por uma isquemia, ele usava auxiliares para recortar fotos da família, retomando os princípios que
aplicara no início da carreira.
Casado com Electra, ele deixa
duas filhas: a poeta e artista gráfica
Lenora e a artista plástica Fabiana.
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