São Paulo, sábado, 18 de abril de 1998

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Morre aos 75 o artista Geraldo de Barros

MARIO CESAR CARVALHO
da Reportagem Local

Morreu ontem em São Paulo o artista plástico, fotógrafo, designer e industrial Geraldo de Barros. Tinha 75 anos.
Ele sofreu uma embolia pulmonar (obstrução dos vasos sanguíneos do pulmão). Estava internado havia duas semanas no hospital Beneficência Portuguesa por causa de uma hemorragia gástrica. Na última semana, contraíra pneumonia. Será enterrado amanhã às 11h no cemitério São Paulo.
Barros foi um dos fundadores do concretismo, movimento que mudou a arte brasileira nos anos 50 com obras que aliavam abstração e rigor geométrico.
Nascido em Xavantes (SP), ele começou a estudar pintura em 1947 com Yoshia Takaoka. A partir daí, teve uma carreira meteórica. Em 1950, fez sua primeira exposição, de fotos abstratas.
Barros via a fotografia como parente próxima da gravura. Fotografava detalhes que ninguém sabia de onde tinham saído, manipulava negativos, riscava-os.
Vistas hoje, são fotos assustadoras pela capacidade de extrair do banal imagens que não se entregam à primeira vista.
Com essa exposição, ganhou uma bolsa para estudar na Escola Superior de Belas Artes em Paris. Foi lá, em 1951, que ele conheceu uma de suas maiores influências, o artista suíço Max Bill, pai e teórico da arte concreta.
De volta ao Brasil em 1952, Barros passou a disseminar aqui os princípios concretistas na arte. A idéia básica do movimento era de que toda a arte baseada na representação estava esgotada.
O mundo industrial e os novos conhecimentos sobre o olhar exigiam uma nova arte. "A nossa inteligência não pode ser a de Leonardo (da Vinci). A história deu um salto qualitativo: não há mais continuidade!", defendia o Manifesto Ruptura, lançado em 1952 por Barros, Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux e Luís Sacilotto.
O manifesto foi um choque. À época, Portinari e suas imagens da pobreza, incensadas pelo Partido Comunista, eram o sinônimo de arte no Brasil.
Barros, ligado aos socialistas, defendia outro tipo de militância. Queria tirar a arte do cordão sanitário dos museus e disseminá-la no cotidiano com móveis e objetos. Em 1954, ele criou a Unilabor, uma cooperativa de móveis modernos que tentava levar adiante essa utopia.
Em 1964, a utopia ganha escala industrial com a criação da fábrica de móveis Hobjeto, que provocou uma reviravolta no design e na indústria.
Dois anos depois, Barros fundou a Rex Gallery, com Wesley Duke Lee e Nelson Leirner. Era uma galeria que debochava do mercado de arte, com performances e maluquices típicas dos anos 60.
Na década seguinte, seus trabalhos se aproximaram da pop arte e dos cartazes publicitários. O alvo era a comunicação de massa.
Nos anos 80, Barros voltou ao concretismo com novas provocações. Criava obras geométricas em fórmica, tipo de trabalho que pode ser multiplicado infinitamente.
Em 1987, com uma exposição na Suíça, as fotos de Barros foram redescobertas. Já passaram por mostras na França, Alemanha e EUA. A consagração definitiva está agendada para 1999. O Museu Ludwig (Alemanha), um dos mais prestigiados da Europa, prepara uma retrospectiva de Barros.
O artista estava tão animado que voltara a criar. Com o lado direito do corpo paralisado desde 1983 por uma isquemia, ele usava auxiliares para recortar fotos da família, retomando os princípios que aplicara no início da carreira.
Casado com Electra, ele deixa duas filhas: a poeta e artista gráfica Lenora e a artista plástica Fabiana.



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