São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Prefiro minha privacidade", diz Rambo

FREE-LANCE PARA A FOLHA

O mineiro Mário Lúcio Mendes, 43, mais conhecido como Rambo, vive um dilema. Ele está com casamento marcado para o final do ano e ainda não decidiu se vai trazer a futura mulher para morar na caverna que habita há 24 anos na Rocinha.
Valéria Ramos da Silva, 34, mora com os pais na Vila da Penha, na zona norte, mas divide a gruta com ele nos finais de semana.
"Lá é a mansão e aqui é o sítio", resume Rambo. "Mas eu não gosto de apartamento. Prefiro ficar com a minha privacidade", avisa o mineiro, já dando pistas de qual será a sua escolha.
Apesar de morar em uma gruta, Rambo está longe de fazer o tipo ermitão. Tanto é que faz questão de festejar o casamento. "Estamos juntando dinheiro para o bufê", afirma ele, que sempre anda com um celular no bolso.
A mania de vestir roupas de camuflagem e andar com uma faca lhe valeu o apelido do herói de cinema. Extravagante, às vezes passeia na favela com a cobras que encontra no meio do mato. Ele as enrola no corpo.
Rambo habita uma caverna que era utilizada para guardar dinamite na época da construção do túnel Dois Irmãos, hoje túnel Zuzu Angel, que faz a ligação entre a Gávea e São Conrado.
Ele veio trabalhar no Rio de Janeiro no começo da década de 80 como vigilante. Logo ficou desempregado, sem ter como pagar o aluguel.
Naquela época, descobriu a caverna em um trecho de mata virgem no topo do morro. "Na primeira vez em que pisei ali, peguei amor pelo lugar", diz.
Rambo então limpou a mata ao redor e expulsou os morcegos de dentro da gruta.
A morada de Rambo tem o chão plano. Possui 6 m de largura por 9 m de profundidade. A altura é de 3,5 m. A água é natural, proveniente de uma mina próxima. Do lado de fora da caverna, foi improvisado um banheiro. Quatro cães guardam a entrada da moradia contra possíveis invasores, incluindo as cobras.
Ele diz que nunca teve problema com o tráfico de drogas na favela. Seu domicílio é de difícil acesso. Ele não costuma receber visitas. A principal dificuldade é subir e descer a trilha que leva até a caverna, mas o lugar é limpo e protegido do vento e da chuva.


Texto Anterior: "Não gosto de compromissos"
Próximo Texto: Eremita vive personagem em filme vencedor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.