São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPLOSÃO

Foram usados 200 kg de explosivos para derrubar as unidades 2 e 5 da velha Casa de Detenção, na zona norte

Limpeza do Carandiru vai demorar 3 meses

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Duzentos quilos de dinamite espalhados em 1.500 pontos puseram abaixo ontem os pavilhões 2 e 5 do Carandiru em apenas quatro segundos. A destruição se deu às 11h02, em meio a rajadas de vento que espalharam a grande quantidade de poeira resultante da implosão pela área na zona norte de São Paulo. Em 90 dias, espera-se que o local esteja totalmente limpo, sem entulhos.
Após esse prazo, começará, então, a terceira fase da implantação do parque da Juventude no local. A área será chamada de parque Institucional e abrigará um pavilhão de exposições e um teatro (leia texto nesta página).
Em dezembro de 2002, os pavilhões 6, 8 e 9 foram derrubados com 250 quilos de explosivos instalados em pilares e estruturas. A ação demorou sete segundos. Apenas os pavilhões 4 e 7 do Carandiru, ou Casa de Detenção de São Paulo, serão mantidos.
"O velho Carandiru, agora, só no cinema ou na televisão", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB), depois de ter acionado o botão vermelho que detonou a dinamite. De acordo com ele, a cidade deixou de ter um modelo "péssimo" de segurança com o fim da Casa de Detenção, uma penitenciária com mais de 8.500 presos, constantes focos de rebelião e fugas.
Para a operação de ontem, foram mobilizados 409 integrantes da Defesa Civil. Trinta e seis famílias que moram próximas aos pavilhões precisaram deixar suas casas pela manhã para não correr riscos com a implosão.
"Eu saí às 9h e voltei ao meio-dia. Assisti a implosão pelo telão e achei que foi mais fraca que a anterior, quando senti o chão tremer", disse o garçom Wagner Nascimento, 22. Ele não percebeu nenhum problema na casa após a detonação dos explosivos e não viu rachaduras.
Segundo o engenheiro responsável pela implosão, Manoel Jorge Dias, 49, tudo correu conforme era previsto e o resultado foi "maravilhoso". "A operação foi perfeita graças ao trabalho que a Defesa Civil desenvolveu no isolamento de área, que é o aspecto mais importante", disse.
Segundo ele, a fragmentação dos prédios foi boa e isso irá facilitar a retirada do entulho. O engenheiro afirmou que parte do material que restou, principalmente ferro, será reciclada.
A Defesa Civil estima que 800 pessoas tenham assistido à implosão por um telão instalado na avenida General Ataliba Leonel. No palanque instalado mais perto dos prédios, onde era permitida a presença apenas de convidados e da imprensa, estavam protagonistas da história do Carandiru.
Um deles, Edvaldo Godoy, passou 20 anos no local e assistiu ao massacre que vitimou 111 presos. Outro presente foi o coronel Ubiratan Guimarães, que comandou essa operação (leia nesta página).

Sistema prisional
O governador disse ontem que irá manter o prazo para acabar com as carceragens. Isso possibilitará, segundo ele, manter os presos ainda não condenados em local mais digno, nos CDPs (Centros de Detenção Provisória).
"O prazo é outubro. Esse é um segundo esforço do tamanho do Carandiru. As delegacias de polícia foram historicamente lotando e a nossa meta é deixar apenas uma em cada seccional para transferência para os CDPs."
Segundo ele, nos CDPs o preso não fica "naquelas cadeias minúsculas, com umidade, doença, sem tomar sol, às vezes mais de ano".
Na implosão de 2002, Alckmin anunciou a criação de uma superprisão, nos moldes de Presidente Bernardes. Ela deveria ter sido construída em 2003.
Entretanto, segundo o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, não foi possível cumprir a promessa porque o Ministério da Justiça não liberou R$ 12 milhões necessários para as obras. O presídio ficaria numa cidade do interior.
"Os R$ 12 milhões não foram liberados, então optou-se por reformar a Penitenciária de Avaré, que vai atingir a mesma finalidade, com recursos do Estado", disse Furukawa. O número de vagas em Avaré passará de 500 para 750.

Texto Anterior: Panorâmica - Roubo: William Bonner reconhece assaltante
Próximo Texto: Alckmin pretende remover favela vizinha ao parque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.