São Paulo, sexta-feira, 18 de setembro de 2009

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"Comi tudo", diz Júlia, 2, após almoço

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Arroz, feijão, macarrão, salsicha! Comi tudo!". Júlia, 2, bate palmas enquanto conta o que teve de almoço na creche conveniada da prefeitura que frequenta no Grajaú, extremo sul da capital.
Ela e seus dois primos, Kevin, 4, e Caio, 3, dependem das refeições servidas na creche para se alimentar. "Acordo as crianças e levo para a creche direto. O café da manhã elas tomam lá", conta Carla Cristine Rodrigues de Albuquerque, 24, tia de Júlia e mãe dos meninos.
Desempregada, de vez em quando Carla faz bico como faxineira -neste mês, porém, só conseguiu um dia de trabalho, que lhe rendeu R$ 30. "O dinheiro da faxina vai quase todo em filme de DVD. É o único jeito de as crianças sossegarem". O aparelho é quase um luxo na casa de dois cômodos onde dormem oito pessoas, divididas em um beliche e uma cama de casal.
Carla diz que preferia gastar em cereal, iogurte e bolacha, que as crianças vivem pedindo, mas que ela só consegue comprar bem de vez em quando. "Um pacote de Sucrilhos está uns R$ 5 e a bandeja de iogurte só dá para uma rodada", diz mostrando as crianças que a cercam.
Na creche, os pequenos fazem cinco refeições, mas, quando chegam em casa, no final da tarde, já estão reclamando de fome. O percurso, feito a pé porque falta dinheiro para a perua. Para driblar a fome, tomam um leite e esperam pelo jantar, geralmente um cuscuz.
Apreensiva com a possibilidade de corte na merenda, Carla já conversava com a mãe, Zélia do Nascimento, 41, sobre o que fazer para dar de comer aos pequenos.
É Zélia quem ajuda a sustentá-los -além dos seis outros filhos e netos que tem- com um salário de R$ 2.200, que ganha como assessora parlamentar do PT.
"Vou ter de gastar o que não tenho se cortarem uma refeição na creche", diz Carla. A mãe emenda: "E vai sobrar para mim".


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