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"Comi tudo", diz Júlia, 2, após almoço
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Arroz, feijão, macarrão,
salsicha! Comi tudo!". Júlia, 2, bate palmas enquanto conta o que teve de almoço na creche conveniada da prefeitura que frequenta no Grajaú, extremo sul da capital.
Ela e seus dois primos,
Kevin, 4, e Caio, 3, dependem das refeições servidas
na creche para se alimentar. "Acordo as crianças e
levo para a creche direto.
O café da manhã elas tomam lá", conta Carla Cristine Rodrigues de Albuquerque, 24, tia de Júlia e
mãe dos meninos.
Desempregada, de vez
em quando Carla faz bico
como faxineira -neste
mês, porém, só conseguiu
um dia de trabalho, que
lhe rendeu R$ 30. "O dinheiro da faxina vai quase
todo em filme de DVD. É o
único jeito de as crianças
sossegarem". O aparelho é
quase um luxo na casa de
dois cômodos onde dormem oito pessoas, divididas em um beliche e uma
cama de casal.
Carla diz que preferia
gastar em cereal, iogurte e
bolacha, que as crianças
vivem pedindo, mas que
ela só consegue comprar
bem de vez em quando.
"Um pacote de Sucrilhos
está uns R$ 5 e a bandeja
de iogurte só dá para uma
rodada", diz mostrando as
crianças que a cercam.
Na creche, os pequenos
fazem cinco refeições,
mas, quando chegam em
casa, no final da tarde, já
estão reclamando de fome.
O percurso, feito a pé porque falta dinheiro para a
perua. Para driblar a fome,
tomam um leite e esperam
pelo jantar, geralmente
um cuscuz.
Apreensiva com a possibilidade de corte na merenda, Carla já conversava
com a mãe, Zélia do Nascimento, 41, sobre o que fazer para dar de comer aos
pequenos.
É Zélia quem ajuda a
sustentá-los -além dos
seis outros filhos e netos
que tem- com um salário
de R$ 2.200, que ganha como assessora parlamentar
do PT.
"Vou ter de gastar o que
não tenho se cortarem
uma refeição na creche",
diz Carla. A mãe emenda:
"E vai sobrar para mim".
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