São Paulo, sexta-feira, 18 de setembro de 2009

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BARBARA GANCIA

Baixeza sem igual


Um dos luxos da vida é dizer não. Quem sempre diz sim, mais cedo ou mais tarde, acaba se prostituindo


O IMBRÓGLIO EM QUE Nelson Ângelo Piquet se meteu deve marcá-lo pelo resto de seus dias.
Daqui a dez ou 15 anos, quando ele estiver negociando mais um ponto para sua franquia da Casa do Pão de Queijo ou do Fran's Café (a não ser que seu pai compre uma categoria no automobilismo, o que mais ele vai fazer?), o sujeito que se sentar na sua frente na mesa de reunião irá pensar: "Esse é o cara que faz malfeito e sai contando".
Muita gente anda insistindo em dizer que o que Rubens Barrichello fez naquele GP da Áustria tem o mesmo peso do que o que Nelsinho fez em Cingapura. O jornal inglês "The Times" não concorda. Chama a patifaria atual de "the worst single piece of cheating in the history of sport", a pior trapaça da história do esporte. Não do esporte automobilístico, mas de TODO o esporte.
O governo de Cingapura já estuda abrir processo contra todos os envolvidos. Provocar um acidente propositalmente num país em que a lei estabelece que se açoite publicamente quem masca chicletes não é exatamente uma ideia brilhante.
Esta história de delinquência é diferente das outras da F-1 por dois motivos. Primeiro, porque batidas têm consequências que escapam do controle. Uma roda voar para cima do público não seria um evento fora do comum num acidente em pista de rua.
Já que a intenção era chocar-se contra o guard-rail para provocar a entrada do safety car, bastaria bater de leve e danificar a suspensão. Mas os danos causados no Renault não devem ter custado menos de US$ 300 mil. Até que ponto Nelsinho controlou a batida?
E, segundo, porque o choque criou o precedente de mudar o resultado de uma corrida de modo substancial. E se a moda pega? Nós aqui no Brasil não apostamos na F-1, mas e os ingleses e os russos e os americanos e os asiáticos que apostam até em corrida de velotrol?
E não adianta agora Bernie Ecclestone vir dizer que no mês de maio Nelsão Piquet já tinha lhe falado sobre o ocorrido em Cingapura. Como parte interessada na eleição da FIA que se aproxima, mesmo sendo sócio de Briatore num time de futebol inglês, ao dizer isso, Ecclestone só reforça a suspeita de que está usando Nelson pai para fazer seu serviço sujo.
Alonso é outro que deveria ir puxando o carro. Esta é sua terceira infração grave depois do "Spygate" e do treino na Hungria em que barrou o caminho de Hamilton. Já passou a hora de ser banido do esporte. Sobre Flavio Briatore, ninguém é amigo da família de mafiosos Bonanno impunemente. Sua baixeza é tamanha que, para livrar a cara das dúvidas sobre sua sexualidade, que sempre o acompanharam, ele resolveu sair atirando primeiro. E ainda há dirigente do A. C. Milan e político italiano que o chame de "um homem de bem"...
No meio do tiroteio, sobrou a viúva Porcina, Nelsinho Piquet, que foi sem nunca ter sido. Pena que não tenha sido educado para saber que o grande luxo do ser humano é dizer não. Quem diz sim o tempo inteiro e vive a vida do tudo por dinheiro e por sucesso, mais cedo ou mais tarde, acaba se prostituindo.

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