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Nem GP Brasil detém crise na prostituição de luxo em SP
Donos de casas noturnas reclamam de excesso de fiscalização e da redução de turistas
Evento que mais atrai o público masculino, Fórmula 1 não cria tanta expectativa de movimento e lucro como antes na noite de São Paulo
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hipermalhada, bronzeada e
incrivelmente disponível em
seu tomara-que-caia verde-bandeira justo, curto e cheio de
pequenos gomos, Luana, 25,
garota de programa desde os
20, diz que vai ter de correr
mais do que Rubinho Barrichello para conseguir algum ganho
no Grande Prêmio Brasil de
Fórmula 1. "O mercado está desacelerado", queixa-se Luana,
que cobra R$ 250 por uma hora
e meia. A corrida é hoje.
"Normalmente, começo a
gastar um mês antes do GP, por
conta do que vou ganhar. Dá
pra pedir até R$ 500 por programa", diz ela, desacorçoada,
em um canto do night club Garden, no Brooklin.
"Tivemos uma queda de 40%
no movimento, em relação ao
ano passado", diz o dono do
Garden, que não quer se identificar. Ninguém quer. O do My
Love, no centro de SP, permite,
a custo, que se tire uma foto da
fachada decorada com bandeirinhas das escuderias.
"Não põe meu nome porque
qualquer coisa que a gente diga,
hoje em dia, compromete [com
os fiscais da prefeitura]", afirma ele, meio esbaforido, reclamando sem parar do recente
déficit de frequentadores.
Na sexta-feira, a prefeitura
fechou o Romanza, na avenida
Nove de Julho, por problemas
no alvará. Tradicionalmente, a
casa costumava homenagear o
GP (e as GPs) com uma feijoada
no sábado. A consumação era
cerca de R$ 150.
A iminência das blitze para
interdição dos clubes afugenta
o público de executivos e também as garotas.
A maioria dos donos das casas de garotas passaram a ter
medo da prefeitura, depois do
estrepitoso fechamento do clube Bahamas, no Brooklin, seguido de vários ataques do proprietário, Oscar Maroni, ao
prefeito. "Existe uma insegurança na noite por causa da repressão, dessas atitudes falso-moralistas", acha Maroni.
Desempregadas
O excedente de "desempregadas" -com o fechamento do
Bahamas, Café Milenium etc-
migrou para sites cada vez mais
populosos. "Trabalhava no
Bomboa (em Pinheiros), mas,
pra mim, vale muito mais à pena atender em um flat do que
disputar homens com 200 mulheres", descobriu a carioca Lívia, 23, em SP desde março. Ela
gasta cerca de R$ 500 por mês
para anunciar em três sites.
Inconformados, os donos dos
clubes dizem que prefeitura
"colaborou muito" para a queda em seu faturamento. Eles reclamam que, depois da lei Cidade Limpa, por exemplo, não puderam mais espalhar outdoors
nas vizinhanças do autódromo.
A prefeitura não comenta.
R$ 250 milhões
Para os empresários do setor
de entretenimento e turismo
de negócios, o Grande Prêmio
é, historicamente, o evento
mais aguardado do ano em São
Paulo. "Mais que a parada gay",
afirma Toni Sando, diretor do
São Paulo Convention and Visitors Bureau. "Entram na cidade
R$ 250 milhões", diz.
Mas, para o presidente da Associação Brasileira da Indústria
de Hotéis, Maurício Bernardino, o GP deste ano não foi rentável. Ele afirma que os empresários do setor estão "decepcionados e apreensivos" com a
queda de estimados 30% na
ocupação dos hotéis.
Ele e Sando explicam que,
depois da crise, muitos patrocinadores da corrida enxugaram
gastos com politica de relacionamento (ações em camarotes
e convites a parceiros) e também com incentivos a funcionários (prêmios e viagens).
Eles lembram também que,
no ano passado, teve Salão do
Automóvel. Em geral, o salão se
realiza na mesma época do GP,
e a cada dois anos.
Desacompanhados
De acordo com Bernardino,
75% do público dos dois eventos é composto por "homens
desacompanhados". Isso significa que boa parte daqueles R$
250 milhões que entram na cidade, só para citar o GP, são dedicados a Luana e suas colegas
-e também aos donos das casas noturnas e até aos motoristas de táxi, que chegam a ganhar R$ 100 por cliente levado
ao clube. "No ano passado, em
um dia eu levei 12 executivos ao
(Café) Photo", diz o taxista
Gentil Vieira, que faz ponto
próximo ao hotel Fasano. "Neste ano, não levei ninguém."
A própria assessoria do GP
diz que registrou uma decolagem tardia na venda dos ingressos, que, em geral, se esgota
quatro semanas antes do evento. Na quarta-feira, ainda havia
dois setores e toda a arquibancada disponíveis. Só resta torcer para que Rubinho ganhe a
prova e salve a temporada.
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