São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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Nem GP Brasil detém crise na prostituição de luxo em SP

Donos de casas noturnas reclamam de excesso de fiscalização e da redução de turistas

Evento que mais atrai o público masculino, Fórmula 1 não cria tanta expectativa de movimento e lucro como antes na noite de São Paulo

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Hipermalhada, bronzeada e incrivelmente disponível em seu tomara-que-caia verde-bandeira justo, curto e cheio de pequenos gomos, Luana, 25, garota de programa desde os 20, diz que vai ter de correr mais do que Rubinho Barrichello para conseguir algum ganho no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1. "O mercado está desacelerado", queixa-se Luana, que cobra R$ 250 por uma hora e meia. A corrida é hoje.
"Normalmente, começo a gastar um mês antes do GP, por conta do que vou ganhar. Dá pra pedir até R$ 500 por programa", diz ela, desacorçoada, em um canto do night club Garden, no Brooklin.
"Tivemos uma queda de 40% no movimento, em relação ao ano passado", diz o dono do Garden, que não quer se identificar. Ninguém quer. O do My Love, no centro de SP, permite, a custo, que se tire uma foto da fachada decorada com bandeirinhas das escuderias.
"Não põe meu nome porque qualquer coisa que a gente diga, hoje em dia, compromete [com os fiscais da prefeitura]", afirma ele, meio esbaforido, reclamando sem parar do recente déficit de frequentadores.
Na sexta-feira, a prefeitura fechou o Romanza, na avenida Nove de Julho, por problemas no alvará. Tradicionalmente, a casa costumava homenagear o GP (e as GPs) com uma feijoada no sábado. A consumação era cerca de R$ 150.
A iminência das blitze para interdição dos clubes afugenta o público de executivos e também as garotas.
A maioria dos donos das casas de garotas passaram a ter medo da prefeitura, depois do estrepitoso fechamento do clube Bahamas, no Brooklin, seguido de vários ataques do proprietário, Oscar Maroni, ao prefeito. "Existe uma insegurança na noite por causa da repressão, dessas atitudes falso-moralistas", acha Maroni.

Desempregadas
O excedente de "desempregadas" -com o fechamento do Bahamas, Café Milenium etc- migrou para sites cada vez mais populosos. "Trabalhava no Bomboa (em Pinheiros), mas, pra mim, vale muito mais à pena atender em um flat do que disputar homens com 200 mulheres", descobriu a carioca Lívia, 23, em SP desde março. Ela gasta cerca de R$ 500 por mês para anunciar em três sites.
Inconformados, os donos dos clubes dizem que prefeitura "colaborou muito" para a queda em seu faturamento. Eles reclamam que, depois da lei Cidade Limpa, por exemplo, não puderam mais espalhar outdoors nas vizinhanças do autódromo.
A prefeitura não comenta.

R$ 250 milhões
Para os empresários do setor de entretenimento e turismo de negócios, o Grande Prêmio é, historicamente, o evento mais aguardado do ano em São Paulo. "Mais que a parada gay", afirma Toni Sando, diretor do São Paulo Convention and Visitors Bureau. "Entram na cidade R$ 250 milhões", diz.
Mas, para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Maurício Bernardino, o GP deste ano não foi rentável. Ele afirma que os empresários do setor estão "decepcionados e apreensivos" com a queda de estimados 30% na ocupação dos hotéis.
Ele e Sando explicam que, depois da crise, muitos patrocinadores da corrida enxugaram gastos com politica de relacionamento (ações em camarotes e convites a parceiros) e também com incentivos a funcionários (prêmios e viagens).
Eles lembram também que, no ano passado, teve Salão do Automóvel. Em geral, o salão se realiza na mesma época do GP, e a cada dois anos.

Desacompanhados
De acordo com Bernardino, 75% do público dos dois eventos é composto por "homens desacompanhados". Isso significa que boa parte daqueles R$ 250 milhões que entram na cidade, só para citar o GP, são dedicados a Luana e suas colegas -e também aos donos das casas noturnas e até aos motoristas de táxi, que chegam a ganhar R$ 100 por cliente levado ao clube. "No ano passado, em um dia eu levei 12 executivos ao (Café) Photo", diz o taxista Gentil Vieira, que faz ponto próximo ao hotel Fasano. "Neste ano, não levei ninguém."
A própria assessoria do GP diz que registrou uma decolagem tardia na venda dos ingressos, que, em geral, se esgota quatro semanas antes do evento. Na quarta-feira, ainda havia dois setores e toda a arquibancada disponíveis. Só resta torcer para que Rubinho ganhe a prova e salve a temporada.


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