São Paulo, domingo, 18 de outubro de 1998

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EDUCAÇÃO
Bienal quer trazer arte para estudante

ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local

"Como é que fica a sombra?" A dúvida de Lucas, 8, ao ser apresentado ao quadro "L"Empire des Lumières", de René Magritte, na 24ª Bienal Internacional de São Paulo, é exatamente o que os coordenadores do Núcleo de Educação da Bienal querem provocar.
O quadro mostra um céu azul de meio-dia com uma casa à noite. A monitora do Núcleo de Educação, criado pela primeira vez na Bienal neste ano, explicou que Magritte pintava aquilo que "só existe nos sonhos, como um céu durante o dia com a casa à noite", mas não conseguiu responder à pergunta de Lucas, aluno da segunda série do colégio Maria Montessori.
Essa é a idéia do projeto Núcleo Educação: levar a arte contemporânea ao mundo dos estudantes, fazendo-os pensar sobre as obras da Bienal e apresentar novas leituras, aproximando-os do artista.
"A arte contemporânea é muito distante das pessoas e vista apenas como esquisitice. Nosso trabalho é uma mediação entre público e arte, e, com as crianças, é mais fácil, porque não há preconceito", disse Milene Chiovatto, 35, coordenadora de monitores.
O Núcleo Educação tem 145 monitores treinados para acompanhar grupos de visita à Bienal. A idéia é atender até 100 mil crianças e adolescentes. Mas o trabalho começa antes da visita.
Desde agosto, outro projeto do Núcleo Educação vem capacitando 2.000 profissionais das redes estadual e municipal de ensino, com um curso que envolve palestras com educadores e artistas e uma visita prévia à Bienal para preparar a visita do estudante.
Durante a visita, o trabalho do professor é auxiliar ao do monitor. Os dois discutem o roteiro e em quais obras deverão exercitar a "construção poética": levar o aluno a falar sobre o que vê.
Na verdade, devido à limitação de tempo (1h30), esse trabalho ainda é bastante precário. Os estudantes ficam de cinco a dez minutos parados em cada obra, suficientes apenas para notar que Tarsila do Amaral faz "tudo em tamanhos diferentes", como observou Renata, 7, ou que "não é só com tinta e pincel que se faz arte", como disse Luciana, 8.
Segundo Iveta Maria Borges Ávila, 49, coordenadora do projeto de capacitação de professores, a visita é apenas 50% do trabalho. "Os outros 50% ocorrem na sala de aula, com estudos sobre artistas e obras e discussões sobre o que foi visto", disse.
Denise Grinspum, 39, coordenadora educativa do museu Lasar Segall, que faz esse tipo de trabalho com estudantes constantemente, também diz que uma visita de menos de duas horas a qualquer museu é muito pouco, mas já serve como incentivo para depois voltar com os pais.




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