São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VIOLÊNCIA
Por exigência dos presos, comissão de familiares acompanhou conversas entre rebelados e a direção do presídio
Início de negociação demorou dez horas

DA FOLHA VALE

Apesar de a rebelião na Casa de Custódia de Taubaté ter começado por volta das 8h, os responsáveis por negociar as exigências feitas pelos presos só chegaram ao local às 16h20 e as negociações só foram iniciadas às 18h10, cerca de dez horas após o início do motim.
Segundo informações do diretor-adjunto do presídio, Edson Alves dos Santos, o diretor da Casa de Custódia, Ismael Pedrosa, estava viajando quando teve início a rebelião.
Pedrosa só chegou ao presídio às 16h20, acompanhado da juíza-corregedora de Taubaté, Sueli Armani Zeraik, e do comandante da Polícia Militar no Vale do Paraíba e litoral norte, coronel Sebastião Souza Pinto. O diretor e a juíza entraram na Casa de Custódia para negociar com os presos.
Até a chegada da Tropa de Choque da Polícia Militar de São Paulo -com 60 homens em dois caminhões, duas minivans e duas picapes- e de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), havia apenas 12 carros da PM, todos de Taubaté, cercando o presídio.
As negociações começaram por volta das 18h10, mas às 18h48 os presos exigiram a presença de uma comissão formada por cinco familiares dos presos para continuar a negociação. A exigência foi atendida pela direção da Casa de Custódia.
A maior preocupação dos rebelados e dos familiares durante a negociação era que a polícia entrasse no presídio para sufocar o movimento.
A impressão era reforçada, por volta das 19h, pela ação da polícia, que afastou a imprensa, principalmente fotógrafos e cinegrafistas, da área próxima da entrada do presídio.
Além disso, dois atiradores de elite da PM haviam se posicionado em locais estratégicos, o que reforçou a desconfiança dos familiares dos presos.
O diretor da Casa de Custódia, Ismael Pedrosa, foi recebido pelos familiares aos gritos de "assassino" ao chegar ao local.
Os rebelados, segundo informações da polícia, teriam montado uma barricada com botijões de gás e maçaricos, enquanto aguardavam o desfecho da negociação.
A última rebelião na Casa de Custódia de Taubaté ocorreu no dia 28 de outubro de 97, quando cem pessoas, a maioria familiares, foram feitas reféns durante um motim, que acabou controlado em cerca de 15 minutos pela Tropa de Choque da PM.
Segundo a PM, entre os cinco mortos na rebelião também estaria um detento, identificado apenas como Antonio Carlos, que seria um dos comandantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Vale do Paraíba.
O PCC é uma organização criminosa que tem ramificações em vários presídios do Estado. Os outros dois mortos seriam os detentos conhecidos como Marx Luiz Gusmão de Oliveira, assaltante de bancos conhecido como Dentinho Branco e outro identificado apenas como Cigano.
A rebelião na Casa de Custódia de Taubaté foi a segunda com mortes a ocorrer na cidade em menos de um mês.
No dia 25 de novembro, três presos foram mortos, sete ficaram feridos, oito fugiram e quatro policiais ficaram reféns por mais de 33 horas em rebelião que destruiu as 18 celas da Cadeia Pública, que tem capacidade para 80 presos, mas abrigava 310 no momento do início da rebelião.
Após a rebelião na Cadeia Pública, comerciantes de Taubaté fecharam as portas por 20 minutos para protestar contra a iniciativa do governador Mário Covas (PSDB) de construir na cidade um Centro de Detenção Provisória para 680 presos.



Texto Anterior: Negociação com presos recomeça hoje
Próximo Texto: Memória: Saiba quem foi o "maníaco do parque"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.