|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RETRATOS DO BRASIL
Dados divulgados pelo IBGE mostram que, no ano passado, 19,5% dos óbitos não foram notificados
24% dos bebês ficam sem registro em 2002
DA SUCURSAL DO RIO
Cerca de 800 mil bebês, o equivalente a um quarto dos brasileiros nascidos em 2002, não foram
registrados no prazo legal -até
90 dias após o parto. Sem o registro civil, eles não são reconhecidos como cidadãos.
Dados do Registro Civil divulgados ontem pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a subnotificação
de nascimentos e mortes -associada à pobreza, à exclusão social
e à falta de informação- permanece um problema grave no país.
O Registro Civil, base mais atualizada sobre as estatísticas vitais
brasileiras (nascimentos e mortes), colhidas nos cartórios, indica
uma taxa de 24,4% de sub-registro de nascimentos. Pelas estimativas do IBGE, nasceram em 2002
cerca de 3,5 milhões de pessoas.
Um quarto desses nascimentos
(cerca de 800 mil) não foi registrado em cartório no prazo legal.
O número sobe para 1 milhão se
forem considerados os bebês sem
registro no ano do nascimento. A
diferença de 200 mil crianças refere-se aos nascimentos ocorridos
de outubro a dezembro, que podem ser registrados no ano seguinte, desde que cumprido o
prazo de três meses.
Pela lei, é obrigatória a notificação em cartório que atesta o nascimento e a morte dos habitantes
de um país. Sem o registro, é quase como se essas pessoas nunca tivessem existido. Sem documentos, uma pessoa não pode votar,
fazer o alistamento militar ou receber qualquer tipo de benefício,
como aposentadoria ou pensão.
"A gente tem de superar a pobreza, e isso significa inserir um segmento da população que está
marginalizado", afirmou Tadeu
Oliveira, gerente de Estatísticas
Vitais do IBGE.
O problema do sub-registro se
repete nas estatísticas de mortalidade: pela estimativa do IBGE,
19,5% dos óbitos ocorridos em
2002 não foram notificados.
Os dados ainda não foram separados por região, mas, tradicionalmente, Norte e Nordeste têm
taxas mais altos de sub-registro.
No Nordeste, 36,2% dos óbitos
não são registrados e, no Norte,
32,3%. A taxa cai para 13,5% no
Centro-Oeste, 11% no Sudeste e
7,5% no Sul.
Segundo o demógrafo Celso Simões, técnico da área de indicadores sociais do IBGE, o ideal é
que a taxa de subnotificação fique
próxima de zero -verificada, segundo ele, em países europeus.
A taxa de 24,4% de sub-registro
é referente aos nascidos em 2002.
Houve uma leve queda em relação a 2001, quando a proporção
de sub-registro de nascimento foi
de 25,6%; em 2000, a taxa era de
22,7% e, em 1991, de 29,8%.
O IBGE não tem estimativa sobre o total da população que vive
sem um documento sequer. A redução no sub-registro desde 1991
é considerada pequena e atribuída a algumas campanhas realizadas pelo governo. Na avaliação do
IBGE, ainda são poucos os efeitos
da lei 9.534, de 1997, que garantiu
a gratuidade das primeiras vias de
certidões de nascimento e morte.
"Há uma parcela de brasileiros
que passa pela vida sem ter sido
registrado", afirmou o sociólogo
Cláudio Dutra, lembrando que,
principalmente no Norte, o sub-registro também está associado às
distâncias.
Um dado que ajuda a medir o
problema da subnotificação é o
percentual de registros tardios de
nascimentos, ou seja, feitos fora
do prazo legal.
Em 2002, 29,9% dos registros de
nascimento feitos no Brasil foram
tardios. Pelos dados do IBGE, o
registro tardio cresce nos anos em
que há eleição. Isso, na análise dos
especialistas, possivelmente se deve ao fato de candidatos estimularem os eleitores a tirar o registro
-e em seguida o título de eleitor.
No Norte e no Nordeste, as proporções de registros tardios foram, respectivamente, 60,7% e
45%. Nove Estados tiveram mais
de 50% de registros tardios: Maranhão (71,1%), Pará (65%), Amazonas (63,7%), Roraima (58,9%),
Amapá (58,1%), Alagoas (56,8%),
Piauí (56,5%), Acre (54,1%) e Tocantins (54%).
Normalmente, o registro tardio
também é feito quando os pais
precisam colocar crianças na escola ou tirar outros documentos,
como o título de eleitor.
O presidente da Arpen (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais), Jaime
Araripe, disse que, dos 8.200 cartórios de registro civil existentes
no país, cerca de 3.500 só fazem
esse tipo de trabalho. Sem receita,
muitos fecharam as portas.
Dados errados
As informações do Registro Civil para os municípios do Estado
de São Paulo foram divulgados
ontem com erros pelo IBGE e serão retificados.
Os erros não alteraram os demais resultados, segundo o IBGE,
pois teriam sido trocados apenas
alguns totais municipais.
De acordo com o instituto, os
dados sobre os municípios paulistas foram coletadas pela Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Análises de Dados).
Quando o IBGE transcreveu as
informações, um problema de
software alterou os resultados.
Nota técnica divulgada ontem pelo instituto informou que os resultados corrigidos serão divulgados assim que possível.
Nascimentos, mortes e casamentos são informados ao IBGE
pelos cartórios de registro civil, e
separações e divórcios, pelas Varas de Família, Foros e Varas Cíveis.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA)
Texto Anterior: Brasileiros casam menos e mais tarde Próximo Texto: Mãe esquece quando deu à luz Índice
|