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Menem barrou projeto argentino
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
A Argentina é um exemplo clássico da estratégia da indústria de
cigarros para cooptar os governos
latino-americanos, de acordo
com a Organização Pan-Americana de Saúde. Em 1992, o governo
do então presidente Carlos Menem (1989-1999) vetou um projeto criado pelo ministro da Saúde
da época, Aldo Neri.
A Lei Neri, entre outras coisas,
proibiria o fumo em ambientes
fechados e toda a publicidade de
cigarros. Assim que o projeto foi
aprovado no Senado, um executivo da Nobleza-Piccardo, filial argentina da BAT (British American Tobacco) informou à matriz
que o próximo passo da empresa
seria tentar um veto presidencial.
"O projeto contava com amplo
apoio legislativo e também social.
A Argentina tem um problema
sério de jovens fumantes e, na
época, todos apoiamos a iniciativa", diz Víctor Abramovich, do
Cels (Centro de Estudos Legais e
Sociais), uma ONG (organização
não-governamental) ligada à área
de saúde pública. "O veto era incompreensível", completa.
Ainda segundo a Organização
Pan-Americana de Saúde, o veto
seria resultado direto da influência do médico Carlos Benjamín
Alvarez, professor da Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade Católica e dono de uma clínica cardiológica, que teria acesso
direto a Menem.
Alvarez é um cardiologista conhecido na Argentina. São seus
pacientes o jogador de futebol
Diego Maradona e o irmão de
Menem, o senador Eduardo Menem. O médico teria usado a proximidade e a amizade com o presidente para influenciá-lo na decisão de vetar a lei.
De acordo com estudo apresentado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em San
Francisco (EUA), ele teria recebido pelo menos US$ 50 mil por
serviços de consultoria prestados
à indústria.
"Pedimos explicações, fizemos
uma denúncia aqui quando soubemos do relatório. Mas a regra
geral foi manter o silêncio", diz
Víctor Abramovich.
A Folha entrou em contato, durante toda a semana passada, com
as assessorias de Menem, de Alvarez e do Ministério da Saúde argentino. Nenhum assessor se manifestou sobre o caso.
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