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SP e a União financiaram pesquisas
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo brasileiro e o Estado
de São Paulo financiaram estudos
de interesse da indústria do fumo.
É o que atestam pesquisadores
brasileiros nos textos de seus próprios trabalhos.
Dos seis principais trabalhos de
brasileiros usados pelo Projeto
Latino da indústria, citados por
pesquisadores da Universidade
da Califórnia (EUA), cinco indicam órgãos de fomento como o
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Não informam que tipos de recursos foram cedidos
nem quantificam a ajuda.
Em um dos estudos de maior
destaque, que analisou o ar de restaurantes e escritórios do Rio e
São Paulo, publicado em 1995 na
revista "Environmental Science &
Technology", o então professor
da USP Antonio Miguel e os professores da UFRJ Jari Nóbrega
Cardoso e Francisco Aquino Neto
informam que a pesquisa teve
verba do Ciar (órgão ligado á indústria), do CNPq, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia,
da Fapesp (Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior), ligada ao MEC.
Em um e-mail de setembro de
1998, Bruce Davies, da área científica da Philip Morris, informa que
Miguel já tinha obtido recursos de
agências do governo brasileiro e
do Chile para parte do estudo sobre o ar de ambientes fechados
em São Paulo e Santiago.
Em outros dois estudos sobre o
ar interno, de 1993, Aquino Neto e
Cardoso também citam Ciar e
CNPq. Em pesquisa divulgada no
mesmo ano, de medição de poluentes em ambientes fechados, o
trio volta a informar financiamento público.
Desde 2000 o Ministério Público Federal em São Paulo investiga
a possível acumulação de financiamento pelos pesquisadores (o
que órgãos de fomento vetam). A
investigação começou após o jornal "Valor Econômico" publicar
naquele ano reportagem sobre o
pagamento de estudos científicos
pela indústria envolvendo o trio.
A procuradora Adriana da Silva
Fernandes questionou as universidades sobre seus professores. A
USP disse que Miguel, que ali
atuou até 95 em regime de dedicação integral, não pediu autorização à Comissão Especial de Regimes de Trabalho para pesquisar e
prestar os serviços de consultoria
à indústria, o que é irregular.
A UFRJ informou que seus professores poderiam prestar serviços "esporádicos" de consultoria.
O CNPq divulgou em 2000 que
Miguel recebeu recursos do órgão
várias vezes entre 1979 e 1996, o
que o impediria de ter qualquer
outra atividade remunerada. O
CNPq dizia desconhecer sua colaboração com a indústria do fumo.
Miguel colabora com a indústria desde 1992, pelo menos. Em
1994, por exemplo, o Projeto Latino previa pagar a ele por atividades como responder à mídia sobre assuntos ligados à qualidade
do ar interno. Em maio de 1995,
ele enviou fax ao escritório de advocacia que gerenciava o projeto
cobrando mais de US$ 4.000 por
despesas como realização de cópias "de nossos estudos".
O CNPq informou à procuradora que uma auditoria constatara
que não havia acumulação de bolsas. Investigou só o período de
novembro de 92 a fevereiro de 93.
O órgão, procurado pela Folha,
respondeu que a política do atual
ministro "é direcionar pesquisas
para o interesse social". "Se realmente os pesquisadores adotaram essa postura, cabe aos gestores do CNPq daquela época responderem." O Ministério Público
segue investigando. Procurada, a
Capes não respondeu. A Fapesp
está em férias coletivas.
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