São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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O PODER DO CRIME

Cerca de 6.000 pessoas foram impedidas de sair da Casa de Detenção e da Penitenciária durante rebelião; criança de 4 anos foi ferida

Reféns começam a ser soltos após 11 horas

MELISSA DINIZ
KÁTIA STRINGUETO


DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 300 homens da tropa de choque da PM se mantinham de prontidão na Casa de Detenção ontem à noite. Por volta das 23h30, cerca de 30 pessoas foram retiradas em um ônibus da corporação. Outros dois microônibus estavam no presídio.
Desde o início da rebelião, às 12h, cerca de 6.000 familiares de presos e funcionários eram impedidos de sair da Casa de Detenção e da Penitenciária do Estado.
No pronto-socorro de Santana, a PM confirmou a entrada de três mortos. Não se sabia se eram presos ou familiares de detentos.
Segundo o secretário estadual da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, dois presos da Casa de Detenção teriam sido mortos pelos policiais que vigiam a muralha do presídio. Eles teriam dito que os detentos atiraram e que eles tiveram que revidar. Isso será investigado pela secretaria.
De acordo com Petrelluzzi, as negociações devem ser retomadas mais intensamente a partir das 5h de hoje.
Na Casa de Detenção, 27 funcionários feitos reféns teriam sido colocados na frente no portão do pavilhão 9, com o objetivo de formar uma barreira humana.
Com a rebelião, toda a área administrativa da Penitenciária do Estado foi destruída e os processos foram rasgados e queimados.
A rebelião começou ao meio-dia e envolveu 2.500 presos da Penitenciária do Estado, que mantiveram 2.000 reféns, e 7.200 presos da Casa de Detenção, que fizeram 4.000 pessoas reféns entre parentes e funcionários.
Por volta das 17h30, a tropa de choque invadiu o presídio e dez minutos depois foram ouvidos disparos. Ao ver a tropa de choque invadir o presídio, parentes dos presos que estavam do lado de fora entraram em pânico e aos gritos de "assassinos" e "covardes", começaram a atiram garrafas de água e latas nos policiais.
Para conter o movimento dos familiares dos presos, a PM isolou a área e atirou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Por volta das 18h, os presos atearam fogo nos colchões e dez minutos depois acenaram das janelas com lençóis brancos. Em um deles havia uma inscrição alertando "temos visitantes", em outros "estamos com crianças e reféns" e em outro "Paz".
A advogada Lucineide Ferreira Costa, feita refém e libertada ontem à noite, disse que "os demais reféns devem ser libertados amanhã (hoje) cedo".

Feridos
No Pronto-Socorro Municipal Dr. Lauro Ribas Braga, no bairro de Santana, foram atendidos 13 carcereiros e duas parentes de presidiários.
"Eles (os presos) falavam que iam me matar e arrancar meu coração", disse o agente penitenciário Marcos José Ferreira, 36, que teve vários ferimentos.
"Só volto lá quando tiver segurança, mas estou com vontade de pedir meu afastamento", afirmou Albertino Guerra, 62, que é funcionário da Penitenciária do Estado há oito anos.
Uma menina de 4 anos e sua mãe foram atendidas no pronto-socorro infantil da Santa Casa com ferimentos na cabeça e no peito. De acordo com Elaine Ferreira, 29, prima da menina, ela foi ferida por estilhaços de uma bomba jogada por policiais. Foram levados para o mesmo hospital três feridos (dois policiais, baleados, e um agente de segurança).


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