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O PODER DO CRIME
Para registrar que estava no comando da rebelião, organização escreveu seu lema no campo de futebol da Casa de Detenção
"Vou virar o sistema", afirma líder do PCC
DO "AGORA SÃO PAULO" E
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última sexta-feira, ao ser
transferido da Casa de Detenção
do Carandiru para a Penitenciária
de Taubaté, a principal liderança
do PCC, Idemir Carlos Ambrósio,
conhecido como Sombra, avisou:
"Anote aí. Vou virar o sistema".
A frase foi dita aos agentes penitenciários que o levaram até o caminhão que fez seu transporte para o interior de São Paulo. Era o
aviso da onda de rebeliões observada ontem no Estado.
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
disse por meio de seu assessor, Rivaldo Chinem, que havia sido informado das ameaças de Sombra,
mas que não temia uma eventual
represália do PCC.
"O secretário não acredita nisso.
Ele acha que é mais uma simples
ameaça descabida. Além do mais
o que pode ser feito?", questionou
o assessor de Furukawa.
Ontem, para tornar público que
a ação na Casa de Detenção era liderada pela organização criminosa, seus integrantes escreveram o
lema do PCC no campo de futebol
-""Paz, justiça e liberdade". Assinaram com o código que identifica o comando, 15.3.3 (que significa PCC, pelo número que a letra
ocupa no alfabeto).
O artigo 14 do estatuto do PCC,
diz que "a prioridade do comando é pressionar o governador do
Estado a desativar aquele campo
de concentração anexo à Casa de
Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as
raízes do comando, no meio de
tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes". É justamente
para esse local que os líderes da
organização foram transferidos
na última sexta-feira.
Nesse "campo de concentração", segundo diretores de presídios, os presos são trocados diariamente de celas para evitar que
criem esconderijos ou planejem
fugas. O banho de sol é regulado.
Eles ficam no pátio 20 minutos
por dia e recebem visitas uma vez
por mês.
Estopim
O Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio
Petrelluzzi, disse ontem que a divulgação das primeiras penitenciárias rebeladas espalhou os motins pelo Estado. ""Há um sistema
de comunicação que vocês (imprensa) fazem parte e que nós não
temos como coibir", disse. Os detentos podem ter acesso a rádio e
televisão nas celas.
Os integrantes do PCC se comunicam por telefones celulares infiltrados nas cadeias e pelos parentes dos presos, nos dias de visita. A última revista no Carandiru,
feita na sexta-feira, encontrou 40
aparelhos celulares na unidade.
Petrelluzzi disse ontem que será
investigado como a rebelião foi
articulada. Há um inquérito em
andamento no Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), desde setembro do ano passado, que investiga
se o PCC realmente existe. Até um
ano atrás, o governo do Estado
negava a existência deles.
Hoje, integrantes do PCC são
suspeitos de planejar e executar
ações ousadas, como resgate de 97
presos do 45º DP (Brasilândia),
no ano passado, e o roubo de R$ 1
milhão em jóias da Caixa Econômica Federal de Ribeirão Preto,
no interior de São Paulo.
A ação do PCC estrapolou as
fronteiras do Estado. A Polícia Federal investiga a participação de
membros da facção em crimes cometidos por uma ""megaquadrilha", cujas ações, em quatro Estados, renderam cerca de R$ 10 milhões de 98 a 2000 para o grupo de
criminosos.
(RITA MAGALHÃES E ALESSANDRO SILVA)
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