São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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O PODER DO CRIME

Para registrar que estava no comando da rebelião, organização escreveu seu lema no campo de futebol da Casa de Detenção

"Vou virar o sistema", afirma líder do PCC

DO "AGORA SÃO PAULO" E
DA REPORTAGEM LOCAL

Na última sexta-feira, ao ser transferido da Casa de Detenção do Carandiru para a Penitenciária de Taubaté, a principal liderança do PCC, Idemir Carlos Ambrósio, conhecido como Sombra, avisou: "Anote aí. Vou virar o sistema".
A frase foi dita aos agentes penitenciários que o levaram até o caminhão que fez seu transporte para o interior de São Paulo. Era o aviso da onda de rebeliões observada ontem no Estado.
O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, disse por meio de seu assessor, Rivaldo Chinem, que havia sido informado das ameaças de Sombra, mas que não temia uma eventual represália do PCC.
"O secretário não acredita nisso. Ele acha que é mais uma simples ameaça descabida. Além do mais o que pode ser feito?", questionou o assessor de Furukawa.
Ontem, para tornar público que a ação na Casa de Detenção era liderada pela organização criminosa, seus integrantes escreveram o lema do PCC no campo de futebol -""Paz, justiça e liberdade". Assinaram com o código que identifica o comando, 15.3.3 (que significa PCC, pelo número que a letra ocupa no alfabeto).
O artigo 14 do estatuto do PCC, diz que "a prioridade do comando é pressionar o governador do Estado a desativar aquele campo de concentração anexo à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes". É justamente para esse local que os líderes da organização foram transferidos na última sexta-feira.
Nesse "campo de concentração", segundo diretores de presídios, os presos são trocados diariamente de celas para evitar que criem esconderijos ou planejem fugas. O banho de sol é regulado. Eles ficam no pátio 20 minutos por dia e recebem visitas uma vez por mês.

Estopim
O Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi, disse ontem que a divulgação das primeiras penitenciárias rebeladas espalhou os motins pelo Estado. ""Há um sistema de comunicação que vocês (imprensa) fazem parte e que nós não temos como coibir", disse. Os detentos podem ter acesso a rádio e televisão nas celas.
Os integrantes do PCC se comunicam por telefones celulares infiltrados nas cadeias e pelos parentes dos presos, nos dias de visita. A última revista no Carandiru, feita na sexta-feira, encontrou 40 aparelhos celulares na unidade.
Petrelluzzi disse ontem que será investigado como a rebelião foi articulada. Há um inquérito em andamento no Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), desde setembro do ano passado, que investiga se o PCC realmente existe. Até um ano atrás, o governo do Estado negava a existência deles.
Hoje, integrantes do PCC são suspeitos de planejar e executar ações ousadas, como resgate de 97 presos do 45º DP (Brasilândia), no ano passado, e o roubo de R$ 1 milhão em jóias da Caixa Econômica Federal de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A ação do PCC estrapolou as fronteiras do Estado. A Polícia Federal investiga a participação de membros da facção em crimes cometidos por uma ""megaquadrilha", cujas ações, em quatro Estados, renderam cerca de R$ 10 milhões de 98 a 2000 para o grupo de criminosos. (RITA MAGALHÃES E ALESSANDRO SILVA)


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