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O PODER DO CRIME
"Se deixá-los juntos, eles vão se articular e dominar o local", disse Petrelluzzi; idéia é manter "alto escalão" isolado em 3 presídios
Solução é isolar líderes, dizem secretários
DA REPORTAGEM LOCAL
Os secretários Marco Vinicio
Petrelluzzi, da Segurança Pública,
e Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, são unânimes em apontar o isolamento das
lideranças do Primeiro Comando
da Capital e a pulverização de seus
líderes pelos Estados como a única saída contra a facção.
"Se deixá-los juntos, eles vão se
articular e dominarão o local",
afirmou Petrelluzzi.
A prática tem mostrado, no entanto, que a deportação dos líderes tem espalhado o PCC por todo
o Estado. Prova disso é o CDP
(Centro de Detenção Provisória)
do Belém (na zona sudeste de São
Paulo), onde morreram dois presos ontem. Recém-inaugurado, o
local recebeu presos de vários distritos policiais e era considerado
"muito novo para ter o PCC".
Entretanto em seis meses ocorreram duas rebeliões, ambas após
a passagem pela unidade dos detentos que estavam no presídio de
Taubaté, destruído no final do
ano passado por integrantes do
PCC. Dos oito CDPs inaugurados
no Estado, o de Belém foi o único
onde houve rebelião. Petrelluzzi e
Furukawa discordam de que o
PCC esteja presente em todas as
penitenciárias paulistas.
A idéia do governo de São Paulo
é manter os líderes da facção isolados em três presídios de segurança máxima, onde haverá, no
máximo, 160 detentos: Iaras, Presidente Bernardes e Taubaté (que
em um mês será reativado).
O governador interino Geraldo
Alckmin (PSDB) disse ontem que
o Estado não permitirá que os líderes do Primeiro Comando da
Capital voltem para a Casa de Detenção, como os presos rebelados
estavam exigindo. "Quero deixar
claro que o governo não vai permitir que o crime organizado domine o sistema penitenciário paulista", afirmou.
"A ação do governo é firme neste sentido: aqui só há um comando, que é o do governo, e a polícia
está orientada no sentido de fazer
seu trabalho", disse.
Segundo o governador interino,
"a tropa de choque é uma polícia
de elite, com competência, bom
senso, no sentido de manter essa
determinação". Alckmin disse
ainda que a transferência dos líderes foi feita para desmontar o crime organizado. "O governo não
vai voltar", afirmou.
O ministro da Justiça, José Gregori, disse ontem que, apesar das
"deficiências no sistema, nada
justifica" a ocorrência dos motins.
Segundo Gregori, a "sintonia em
vários presídios ao mesmo tempo
preocupa". "Apesar das providências todas dependerem do governo estadual, já estou me entendendo com autoridades estaduais
para colocar tudo à disposição."
Petrelluzzi e Furukawa reuniram-se às 12h de ontem no Comando Geral da Polícia Militar,
com o coronel Rui César Melo,
comandante-geral da PM, para
acompanhar as rebeliões em todo
o Estado. "Logo de início chegamos à conclusão de que se tratava
de uma represália contra a transferências dos presos, na última
sexta-feira", afirmou Petrelluzzi.
Por volta das 16h, a negociação
foi deixada de lado. "O Estado não
admite poder paralelo e não há
negociação para que os transferidos voltem. O retorno deles é inegociável", disse Furukawa.
A Secretaria da Segurança Pública assumiu, então, o controle
da situação e ordenou a invasão
das unidades. Cinco foram ocupadas de uma vez, incluindo a Casa de Detenção. As outras, gradativamente, segundo o governo.
A operação, segundo os secretários, procurou dominar as unidades, proteger os reféns e evitar fugas. Não havia registro de que nenhum detento tivesse escapado
durante os tumultos. Os presídios
dominados passaram por uma
varredura para evitar que os condenados saíssem misturados com
reféns. A PM determinou que os
policiais do choque, com agentes
penitenciários, identificassem os
reféns antes de liberá-los.
Furukawa anunciou ontem a
compra de 50 detectores de metal
para tentar melhorar a revista de
familiares e a que é feita nas celas.
Segundo ele, "armas e celulares
entram porque a revista é ineficiente ou porque funcionários recebem para facilitar a entrada disso nas unidades".
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