São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2001

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O PODER DO CRIME

"Se deixá-los juntos, eles vão se articular e dominar o local", disse Petrelluzzi; idéia é manter "alto escalão" isolado em 3 presídios

Solução é isolar líderes, dizem secretários

DA REPORTAGEM LOCAL

Os secretários Marco Vinicio Petrelluzzi, da Segurança Pública, e Nagashi Furukawa, da Administração Penitenciária, são unânimes em apontar o isolamento das lideranças do Primeiro Comando da Capital e a pulverização de seus líderes pelos Estados como a única saída contra a facção.
"Se deixá-los juntos, eles vão se articular e dominarão o local", afirmou Petrelluzzi.
A prática tem mostrado, no entanto, que a deportação dos líderes tem espalhado o PCC por todo o Estado. Prova disso é o CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém (na zona sudeste de São Paulo), onde morreram dois presos ontem. Recém-inaugurado, o local recebeu presos de vários distritos policiais e era considerado "muito novo para ter o PCC".
Entretanto em seis meses ocorreram duas rebeliões, ambas após a passagem pela unidade dos detentos que estavam no presídio de Taubaté, destruído no final do ano passado por integrantes do PCC. Dos oito CDPs inaugurados no Estado, o de Belém foi o único onde houve rebelião. Petrelluzzi e Furukawa discordam de que o PCC esteja presente em todas as penitenciárias paulistas.
A idéia do governo de São Paulo é manter os líderes da facção isolados em três presídios de segurança máxima, onde haverá, no máximo, 160 detentos: Iaras, Presidente Bernardes e Taubaté (que em um mês será reativado).
O governador interino Geraldo Alckmin (PSDB) disse ontem que o Estado não permitirá que os líderes do Primeiro Comando da Capital voltem para a Casa de Detenção, como os presos rebelados estavam exigindo. "Quero deixar claro que o governo não vai permitir que o crime organizado domine o sistema penitenciário paulista", afirmou.
"A ação do governo é firme neste sentido: aqui só há um comando, que é o do governo, e a polícia está orientada no sentido de fazer seu trabalho", disse.
Segundo o governador interino, "a tropa de choque é uma polícia de elite, com competência, bom senso, no sentido de manter essa determinação". Alckmin disse ainda que a transferência dos líderes foi feita para desmontar o crime organizado. "O governo não vai voltar", afirmou.
O ministro da Justiça, José Gregori, disse ontem que, apesar das "deficiências no sistema, nada justifica" a ocorrência dos motins. Segundo Gregori, a "sintonia em vários presídios ao mesmo tempo preocupa". "Apesar das providências todas dependerem do governo estadual, já estou me entendendo com autoridades estaduais para colocar tudo à disposição."
Petrelluzzi e Furukawa reuniram-se às 12h de ontem no Comando Geral da Polícia Militar, com o coronel Rui César Melo, comandante-geral da PM, para acompanhar as rebeliões em todo o Estado. "Logo de início chegamos à conclusão de que se tratava de uma represália contra a transferências dos presos, na última sexta-feira", afirmou Petrelluzzi.
Por volta das 16h, a negociação foi deixada de lado. "O Estado não admite poder paralelo e não há negociação para que os transferidos voltem. O retorno deles é inegociável", disse Furukawa.
A Secretaria da Segurança Pública assumiu, então, o controle da situação e ordenou a invasão das unidades. Cinco foram ocupadas de uma vez, incluindo a Casa de Detenção. As outras, gradativamente, segundo o governo.
A operação, segundo os secretários, procurou dominar as unidades, proteger os reféns e evitar fugas. Não havia registro de que nenhum detento tivesse escapado durante os tumultos. Os presídios dominados passaram por uma varredura para evitar que os condenados saíssem misturados com reféns. A PM determinou que os policiais do choque, com agentes penitenciários, identificassem os reféns antes de liberá-los.
Furukawa anunciou ontem a compra de 50 detectores de metal para tentar melhorar a revista de familiares e a que é feita nas celas. Segundo ele, "armas e celulares entram porque a revista é ineficiente ou porque funcionários recebem para facilitar a entrada disso nas unidades".


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