São Paulo, Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 1999
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VIOLÊNCIA
Além disso, moradores do Itaim Paulista, em SP, ainda invadiram um conjunto habitacional; 8 foram presos
Zona leste registra 2 saques em 13 horas

Moacyr Lopes Jt./Folha Imagem
Prateleiras esvaziadas do supermercado Itapicuru, no Itaim Paulista (zona leste), saqueado por cerca de 200 pessoas ao meio-dia de ontem


RODRIGO VERGARA
da Reportagem Local

Dois supermercados saqueados, um deles ao meio-dia, e 40 imóveis invadidos por famílias. Tudo isso ocorreu em menos de 24 horas em um único bairro da periferia de São Paulo, o Itaim Paulista.
O delegado Antônio Abissamra Neto, titular do 50º DP, onde os eventos foram registrados, não vê relação entre os fatos.
Mas uma das oito pessoas presas pelo segundo saque, que se diz inocente e não se identificou, afirmou que muita gente participou das duas invasões a supermercados.
O primeiro saque aconteceu ao meio-dia de anteontem, no supermercado Itapicuru, que fica em uma rua movimentada do bairro.
Às 11h30, ao chegar para trabalhar, os funcionários do Itapicuru, cujos salários estavam atrasados, foram autorizados pelo gerente a quitar as dívidas com mercadorias.
O entra-e-sai dos funcionários com sacolas atraiu a atenção de comerciantes vizinhos, também credores do mercado, e de policiais.
Os PMs aconselharam os funcionários a registrar um boletim de ocorrência sobre o que faziam, para evitar problemas. Os funcionários concordaram, fecharam o mercado e foram para a delegacia.
Eram 11h30. Às 12h, segundo vizinhos, cerca de 200 pessoas que ficaram em frente ao supermercado invadiram o local. Levaram 29 dos 30 carrinhos, máquinas e toda a mercadoria. Sobraram só pacotes de papel higiênico e limões.
"As pessoas estavam prontas para matar ou morrer", disse Maria do Carmo Almeida, 48, mãe de uma caixa do supermercado que havia ido ao local buscar o salário da filha e saiu sem nada.
Cerca de 13 horas depois, à 1h de ontem, os moradores da rua Kemel Addas, a 400 metros do supermercado Itapicuru, foram acordados por um murmúrio incomum.
Cerca de 80 pessoas, entre crianças, homens, mulheres e idosos, desciam a rua. Pararam diante do mercado União. Bateram na porta.
Mas não havia ninguém. O gerente do União, que dormia no supermercado, havia sido assassinado uma semana antes, ali mesmo, depois de uma sessão de tortura.
O saque começou em seguida. Depois que a porta de aço caiu, os invasores foram engrossados por moradores das redondezas. Um carro da PM chegou. Os policiais deram tiros para o ar e prenderam oito pessoas dentro do mercado, entre eles um estudante, 14, um técnico em manutenção, empregado, 43, e uma diarista, 39. Nenhum deles tem passagem pela polícia.
A dona do União, Darci Pacheco Colasso, estima um prejuízo de R$ 15 mil. Para ela, o motivo do saque foi o desemprego na região.
"Se as pessoas tivessem emprego, vida digna, não fariam isso", disse ela. O delegado do 50º DP também ficou preocupado. "Se essa moda pega, fica ruim."


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