São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2000


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BATALHA NA PAULISTA
Polícia usa bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha contra servidores
Choque de manifestantes com PM deixa 20 feridos

Caio Guatelli/Folha Imagem
Manifestante atira obejo durante protesto realizado por servidores da saúde, da educação, funcionários da área de transportes e estudantes que paralisou ontem a avenida Paulista, em São Paulo


Caio Guatelli/Folha Imagem
PMs da tropa de choque, acuados pelos manifestantes, se agrupam em torno de árvore para se defender da reação dos participantes do protesto na avenida Paulista


DA REPORTAGEM LOCAL

Tradicional local de protestos, a avenida Paulista assistiu ontem ao maior confronto entre policiais e manifestantes nos últimos dez anos. O último registro de uso de cachorros e de bombas na avenida foi em 24 de maio de 1989.
Ontem, das 14h35 às 15h30, policiais da tropa de choque da Polícia Militar usaram bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha e sprays de pimenta para dispersar os grevistas que estavam em frente ao Masp.
Segundo a polícia, foram feridos 15 civis e 5 PMs. Entre os civis, dois fotógrafos, um do "Agora São Paulo" e outro da "France Presse". A Folha visitou cinco hospitais na região da Paulista e contou 15 civis feridos. À noite, pelo menos 40 pessoas foram ao 78º DP (Jardins) registrar ocorrência por lesões corporais.
Os manifestantes eram funcionários estaduais da saúde e da educação e estudantes que se preparavam para uma assembléia conjunta com grevistas de outras categorias -como metroviários, funcionários da Justiça Federal e professores universitários- que ainda chegavam ao local.
O ataque da polícia, cujo contingente foi estimado inicialmente em 80 homens e em 300 após o confronto, aconteceu depois que os manifestantes, que estavam concentrados em uma pista, bloquearam o outro lado da avenida.
Momentos antes, o coronel Reinaldo, comandante da tropa de choque, disse: "Temos a missão de manter o trânsito livre em um lado. A ilha (canteiro) é o limite. Temos um acordo com eles e faremos um bloqueio com homens perfilados na ilha".
Questionado sobre o que aconteceria caso os manifestantes não cumprissem o acordo, o coronel disse: "Aí eu não sei".
Nesse momento, ele ouvia a diretora do sindicato dos professores estaduais Luzia Conceição Quinesse dizer que estava preocupada com a possibilidade de os estudantes não obedecerem.
Mas, segundo a presidente do sindicato dos professores, Maria Izabel Noronha, o acordo era outro: "Eles não usariam a cavalaria, e nós pagaríamos multa por danos à população caso os manifestantes invadissem a pista". Ela não soube informar o valor.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirmou que os grevistas não foram autorizados a fazer a manifestação na avenida Paulista.

Bombas
Vinte e cinco minutos após o diálogo com a diretora, um grupo formado majoritariamente por estudantes invadiu o outro lado da avenida, impedindo o trânsito. A fileira de policiais que impediria o acesso deles nem sequer estava totalmente formada.
A tropa de choque entrou em ação imediatamente, levando cães para dispersar os grevistas. Em seguida, uma fileira de soldados dessa tropa, portando escudos e cassetetes, atravessou a avenida no sentido Consolação-Brigadeiro, como se varresse a rua.
Enquanto a fileira passava, os manifestantes fechavam-se novamente em blocos atrás dos policiais, atirando objetos como latas de refrigerante, bandeiras e cocos.
Havia estudantes com bandeiras do PSTU, PC do B e PT. Também foram distribuídos panfletos do Partido da Causa Operária.
Quando voltaram, no sentido oposto, os policiais já jogavam bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral nos manifestantes, que se refugiaram no vão do Masp.
Daí em diante, os manifestantes continuaram provocando e chegaram a explodir rojões no vão. A polícia, por sua vez, jogava bombas sucessivamente, até mesmo no vão do Masp e ao lado do carro de som, de onde os organizadores pediam, inutilmente, que os grevistas não provocassem ou aceitassem provocações.
Depois de tentativas de acordo, feitas pelo deputado estadual Jamil Murad (PC do B) e pelo federal Professor Luizinho (PT), houve o cessar-fogo de ambas as partes, apesar de grevistas terem gritado que não concordavam em sair do local para a passeata até a praça da República.

Negociação
De Brasília, o líder do PT na Câmara, Aloizio Mercadante (SP), tentava negociar a retirada dos policiais com o governador Mário Covas, que queria deslocar a passeata para o parque Villa Lobos, segundo Mercadante.
Covas não quis comentar a confusão. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse à noite que terá reunião hoje com o secretário de Governo, Antônio Angarita, e representantes dos grevistas, às 8h30.
Em meio ao protesto, os professores estaduais e os funcionários da saúde decidiram continuar a greve por tempo indeterminado.
O protesto de ontem foi organizado por uma comissão integrada por 25 entidades ligadas à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Segundo o comando, a manifestação reuniu 100 mil pessoas. De acordo com o comandante da operação da PM, coronel Noel Castro, 15 mil estavam no Masp e 30 mil chegaram à praça.
Eles decidiram fazer uma nova manifestação no dia 25, em frente ao Palácio dos Bandeirantes.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Gilmar Mauro prometeu que os sem-terra vão aderir ao próximo protesto.
(FLÁVIA DE LEON, ALESSANDRO SILVA, ALENCAR IZIDORO, MARIANA VIVEIROS, SORAYA AGÉGE E CAMILA TOSELLO)


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