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Vaticano analisa punição da FAB a capelão
Congregação dirigida por d. Cláudio Hummes recebe documentos sobre major-capelão que cobrava por missas e batizados
IPM contra padre militar foi arquivado, mas ele sofreu prisão administrativa, foi internado e transferido
então do Rio para Brasília
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Processado na Aeronáutica
porque cobrava para celebrar
batizados, casamentos e missas
na capela da Universidade da
Força Aérea (Sulacap, zona
oeste do Rio), o major-capelão
Newton de Medeiros, 52, terá o
seu caso analisado pela Congregação para o Clero no Vaticano, que tem como prefeito o
ex-arcebispo de São Paulo d.
Cláudio Hummes.
O IPM (Inquérito Policial
Militar) que investigou o comportamento do capelão acabou
arquivado por "falta de justa
causa". Ou seja, não ficou comprovada a culpa do acusado.
Mesmo assim, Medeiros sofreu
prisão administrativa, passou
por internação hospitalar e, finalmente, foi transferido do
Rio para Brasília.
Em abril, à revelia do capelão, foi encaminhada à congregação toda a documentação sobre o caso. Coube à advogada
Glória Jean, que defendeu Medeiros de julho do ano passado
a fevereiro deste ano, enviar o
relato do caso para o Vaticano.
Cópias também seguiram para
o núncio apostólico do Brasil, d.
Lorenzo Baldisseri.
À Folha, o capelão afirmou
ontem que preferia não levar o
caso adiante. Ele demonstrou
irritação ao saber do procedimento da advogada, que enviou
os documentos para autoridades católicas sem consultá-lo.
"Isso pode me prejudicar.
Tudo em que entra ódio, raiva,
não leva a nada", disse Medeiros, que confirmou ter sido investigado por suposta má-fé na
gestão do que arrecadava na capela Nossa Senhora de Loreto,
que fica dentro do campus da
Unifa (Universidade da Força
Aérea), onde trabalhou nos seis
últimos anos.
Em novembro de 2005, foram apreendidos R$ 28,18 mil
nos dois cofres da capela. O novo comandante da Unifa, brigadeiro Raul José Ferreira Dias,
fora informado de que o capelão estava cobrando pelas celebrações realizadas na capela.
Houve também a apreensão de
processos de habilitação de casamentos, registros de sacramentos e outros documentos.
Em 30 de outubro de 2006,
após o encerramento do IPM, o
comandante decretou a prisão
disciplinar do religioso por oito
dias, embora, no decorrer do
IPM, o capelão tenha demonstrado que a cobrança era uma
prática antiga e autorizada pela
Arquidiocese do Rio.
"Houve a prisão disciplinar
porque o novo comandante
não tinha conhecimento do
que estava acontecendo. Eu teria que avisá-lo. Quando fez o
inquérito, ele pensou que eu
agira de má-fé", disse o capelão.
De acordo com ele, o dinheiro guardado nos cofres seria
empregado na construção de
uma nova capela na Vila Militar da Aeronáutica no Campo
dos Afonsos (zona oeste). Agora, os R$ 28,28 mil estão retidos pelo governo federal.
Além da prisão administrativa, o capelão passou dois dias
internado no Hospital da Aeronáutica, foi obrigado a desocupar a casa paroquial e a entregar as chaves da capela. Agora,
foi transferido para Brasília.
A advogada disse que encaminhou os documentos do caso a autoridades católicas por
conta própria. "Agi como católica, não como advogada que
trabalhou para o padre Newton, que foi ameaçado."
Segundo ela, o caso do padre
da Unifa mobilizou os capelães
católicos da Aeronáutica. Em
outubro, houve um encontro
dele com seus colegas.
"Os capelães são militares e
são padres. Eles têm dois comandos. Isso os preocupa", disse a advogada.
Outro lado
A Folha tentou ouvir a Aeronáutica sobre o caso. Até a conclusão desta edição, o comando
não havia se manifestado.
O brigadeiro Dias trabalha
hoje no 5º Comar (Comando
Aéreo Regional), no Rio Grande do Sul. Seu ajudante-de-ordens disse à Folha que o comandante estava viajando.
A Arquidiocese do Rio, informado sobre o caso pela Folha,
também não se manifestou.
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