São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Loucos e sãos se integram após queda de muro em clínica de Paracambi (RJ)

VIVIAN MANNHEIMER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Caiu ontem o muro de Paracambi. Não separava o leste comunista do oeste capitalista, mas os ditos loucos dos sãos. Cidade de 40 mil habitantes a 76 km do Rio, na Baixada Fluminense, Paracambi cresceu no entorno da clínica psiquiátrica Doutor Eiras.
Antes da quebra do muro -realizada como manifestação do Dia Nacional da Luta Antimanicomial-, a comunicação entre os moradores da região e os internos se limitava a um buraco. Ontem, começou a ser construído um portão que permitirá o contato entre internos e população.
Construída em 1963, de propriedade de Leonel Miranda, depois ministro da Saúde do governo Costa e Silva, a clínica já foi considerada a maior da América Latina.
Por meio de um buraco no muro, crianças como as irmãs Estefanny e Renata Costa, de 10 e 13 anos, entregavam lanches, balas e presentes. Agora, com o portão, poderão brincar numa futura área de lazer que a prefeitura promete construir, como forma de integração. A população terá acesso às mesmas oficinas -sabonete, argila, tapeçaria- oferecidas aos internos.
Os organizadores do ato dizem que a quebra do muro é mais um passo na política de humanização no tratamento de pacientes mentais, iniciada nos anos 80. Em Paracambi, o movimento tomou força em 2004, quando a clínica sofreu a intervenção da prefeitura devido a denúncias de maus-tratos e alta incidência de mortes entre os internos.
O sistema de saúde mental do município sofreu diversas modificações com base na lei de desospitalização. A lei, em vigor desde 1995, determina a extinção gradual dos hospitais psiquiátricos e a adoção de serviços alternativos.
Foram implementados programas que oferecem uma alternativa à internação e criados Centros de Atenção Psicossocial (Caps), onde os ex-internos recebem tratamento. Com essas medidas, as internações diminuíram -os internos chegavam a 952; hoje são 468. As mortes também caíram.
"O manicômio massifica, trata todos da mesma forma, os pacientes perdem a referência. Hoje, cada um tem um projeto terapêutico próprio, o desejo de cada um é estimulado", diz Cristina Vidal, da Secretaria Municipal de Saúde.


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