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Loucos e sãos se integram após queda de muro em clínica de Paracambi (RJ)
VIVIAN MANNHEIMER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Caiu ontem o muro de Paracambi. Não separava o leste
comunista do oeste capitalista, mas os ditos loucos dos
sãos. Cidade de 40 mil habitantes a 76 km do Rio, na Baixada Fluminense, Paracambi
cresceu no entorno da clínica
psiquiátrica Doutor Eiras.
Antes da quebra do muro
-realizada como manifestação do Dia Nacional da Luta
Antimanicomial-, a comunicação entre os moradores da
região e os internos se limitava a um buraco. Ontem, começou a ser construído um
portão que permitirá o contato entre internos e população.
Construída em 1963, de
propriedade de Leonel Miranda, depois ministro da
Saúde do governo Costa e Silva, a clínica já foi considerada
a maior da América Latina.
Por meio de um buraco no
muro, crianças como as irmãs
Estefanny e Renata Costa, de
10 e 13 anos, entregavam lanches, balas e presentes. Agora, com o portão, poderão
brincar numa futura área de
lazer que a prefeitura promete construir, como forma de
integração. A população terá
acesso às mesmas oficinas
-sabonete, argila, tapeçaria- oferecidas aos internos.
Os organizadores do ato dizem que a quebra do muro é
mais um passo na política de
humanização no tratamento
de pacientes mentais, iniciada nos anos 80. Em Paracambi, o movimento tomou força
em 2004, quando a clínica sofreu a intervenção da prefeitura devido a denúncias de
maus-tratos e alta incidência
de mortes entre os internos.
O sistema de saúde mental
do município sofreu diversas
modificações com base na lei
de desospitalização. A lei, em
vigor desde 1995, determina a
extinção gradual dos hospitais psiquiátricos e a adoção
de serviços alternativos.
Foram implementados
programas que oferecem
uma alternativa à internação
e criados Centros de Atenção
Psicossocial (Caps), onde os
ex-internos recebem tratamento. Com essas medidas,
as internações diminuíram
-os internos chegavam a
952; hoje são 468. As mortes
também caíram.
"O manicômio massifica,
trata todos da mesma forma,
os pacientes perdem a referência. Hoje, cada um tem um
projeto terapêutico próprio, o
desejo de cada um é estimulado", diz Cristina Vidal, da Secretaria Municipal de Saúde.
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