|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pais e professores resistem a horário integral
Em Nova Iguaçu e Belo Horizonte, a ampliação da jornada, feita com poucos recursos, teve de vencer a desconfiança
Baseado na experiência das duas cidades, Ministério da Educação quer estimular projetos de jornada de estudos ampliada no país
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Ao completar um ano neste
mês, o Bairro-Escola -programa do município de Nova Iguaçu (RJ) que o Ministério da
Educação quer estimular no
Brasil- mostrou que é possível
ampliar a jornada escolar com
poucos recursos, mas enfrentou a resistência de pais e a dificuldade de integrar professores
nas atividades do contraturno.
A experiência de Nova Iguaçu -bem como a de Belo Horizonte na Escola Integrada- está sendo catalogada para servir
de modelo para outras iniciativas no Mais Educação, uma das
medidas do Plano de Desenvolvimento da Educação.
Uma das razões que levaram
o MEC a se inspirar nos dois
projetos foi o custo relativamente baixo. Em Nova Iguaçu,
o gasto extra mensal é de R$ 12
por aluno de 1ª à 4ª e de R$ 35
de 5ª à 8ª. Em Belo Horizonte,
esse valor, para todo o ensino
fundamental, foi de R$ 55.
Os dois programas -inspirados também num projeto desenvolvido com colégios da Vila
Madalena (zona oeste de São
Paulo)- ampliaram o horário
escolar usando espaços do bairro, como praças, igrejas e clubes. Com isso, não foi preciso
construir novos prédios.
Além disso, os responsáveis
pelas atividades de reforço, culturais ou esportivas são, principalmente, bolsistas de outros
programas federais, estagiários
ou voluntários.
Maria Antônia Goulart, coordenadora do Bairro-Escola, e
Maria do Pilar Lacerda, secretária de educação de Belo Horizonte, relatam que uma das dificuldades está sendo integrar
as atividades do contraturno
com as de sala de aula.
"Não digo que seja resistência do professor, mas existe
uma visão de que essas atividades são coisas à parte do trabalho da escola", diz Pilar.
Em Nova Iguaçu, o Bairro-Escola enfrenta ainda a desconfiança dos pais. Em 2006, a
adesão nas escolas onde ele estava funcionando foi de 48%.
Para este ano, a meta é 60%. "É
um processo lento. Sabíamos
desde o início que não seria
simples", diz Maria Antônia.
Rosineide Oliveira, coordenadora da escola municipal
Darcy Ribeiro, diz que a adesão
vai aumentando aos poucos:
"Os pais, no início, ficam desconfiados e preferem esperar
um pouco para saber por que
seus filhos ficarão mais tempo
na escola. Aos poucos, no entanto, vão aderindo".
A dona-de-casa Luciene dos
Santos, 33, era uma das que resistiam. "No início, eles ficavam
só brincando e andando na rua.
Daí tirei meus dois filhos. Depois, quando soube que iam
aprender informática, deixei
que voltassem." Também dona-de-casa, Patrícia Silva, 32,
continua resistente: "Os alunos
ficam andando debaixo de sol
para lá e para cá. Prefiro minhas crianças em casa, onde
vêem TV e fazem os deveres".
Por serem experiências recentes, ainda não há dados para
avaliar se os projetos já impactaram no desempenho dos alunos. Para Maria Antônia e Pilar,
esse é o objetivo. "Tem que melhorar a aprendizagem. Caso
contrário, será só um projeto
para cuidar dos alunos fora do
horário escolar", diz Pilar.
Francisco Soares, professor
da Faculdade de Educação da
UFMG, defende a ampliação da
jornada, mas diz que só isso não
basta. "Precisamos desses projetos principalmente nas periferias das grandes cidades. Mas
não estou convencido que os
alunos aprenderão mais permanecendo em escolas se elas
não têm o aprendizado como
valor central. Nem que precisamos deste tipo de projeto em
todas. Sonho com cinco horas
diárias de aula em uma escola
com boa rotina pedagógica."
Texto Anterior: Loucos e sãos se integram após queda de muro em clínica de Paracambi (RJ) Próximo Texto: Primeira vila operária de São Paulo pode abrigar escola técnica Índice
|