São Paulo, sábado, 19 de maio de 2007

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Pais e professores resistem a horário integral

Em Nova Iguaçu e Belo Horizonte, a ampliação da jornada, feita com poucos recursos, teve de vencer a desconfiança

Baseado na experiência das duas cidades, Ministério da Educação quer estimular projetos de jornada de estudos ampliada no país

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Ao completar um ano neste mês, o Bairro-Escola -programa do município de Nova Iguaçu (RJ) que o Ministério da Educação quer estimular no Brasil- mostrou que é possível ampliar a jornada escolar com poucos recursos, mas enfrentou a resistência de pais e a dificuldade de integrar professores nas atividades do contraturno.
A experiência de Nova Iguaçu -bem como a de Belo Horizonte na Escola Integrada- está sendo catalogada para servir de modelo para outras iniciativas no Mais Educação, uma das medidas do Plano de Desenvolvimento da Educação.
Uma das razões que levaram o MEC a se inspirar nos dois projetos foi o custo relativamente baixo. Em Nova Iguaçu, o gasto extra mensal é de R$ 12 por aluno de 1ª à 4ª e de R$ 35 de 5ª à 8ª. Em Belo Horizonte, esse valor, para todo o ensino fundamental, foi de R$ 55.
Os dois programas -inspirados também num projeto desenvolvido com colégios da Vila Madalena (zona oeste de São Paulo)- ampliaram o horário escolar usando espaços do bairro, como praças, igrejas e clubes. Com isso, não foi preciso construir novos prédios.
Além disso, os responsáveis pelas atividades de reforço, culturais ou esportivas são, principalmente, bolsistas de outros programas federais, estagiários ou voluntários.
Maria Antônia Goulart, coordenadora do Bairro-Escola, e Maria do Pilar Lacerda, secretária de educação de Belo Horizonte, relatam que uma das dificuldades está sendo integrar as atividades do contraturno com as de sala de aula.
"Não digo que seja resistência do professor, mas existe uma visão de que essas atividades são coisas à parte do trabalho da escola", diz Pilar.
Em Nova Iguaçu, o Bairro-Escola enfrenta ainda a desconfiança dos pais. Em 2006, a adesão nas escolas onde ele estava funcionando foi de 48%. Para este ano, a meta é 60%. "É um processo lento. Sabíamos desde o início que não seria simples", diz Maria Antônia.
Rosineide Oliveira, coordenadora da escola municipal Darcy Ribeiro, diz que a adesão vai aumentando aos poucos: "Os pais, no início, ficam desconfiados e preferem esperar um pouco para saber por que seus filhos ficarão mais tempo na escola. Aos poucos, no entanto, vão aderindo".
A dona-de-casa Luciene dos Santos, 33, era uma das que resistiam. "No início, eles ficavam só brincando e andando na rua. Daí tirei meus dois filhos. Depois, quando soube que iam aprender informática, deixei que voltassem." Também dona-de-casa, Patrícia Silva, 32, continua resistente: "Os alunos ficam andando debaixo de sol para lá e para cá. Prefiro minhas crianças em casa, onde vêem TV e fazem os deveres".
Por serem experiências recentes, ainda não há dados para avaliar se os projetos já impactaram no desempenho dos alunos. Para Maria Antônia e Pilar, esse é o objetivo. "Tem que melhorar a aprendizagem. Caso contrário, será só um projeto para cuidar dos alunos fora do horário escolar", diz Pilar.
Francisco Soares, professor da Faculdade de Educação da UFMG, defende a ampliação da jornada, mas diz que só isso não basta. "Precisamos desses projetos principalmente nas periferias das grandes cidades. Mas não estou convencido que os alunos aprenderão mais permanecendo em escolas se elas não têm o aprendizado como valor central. Nem que precisamos deste tipo de projeto em todas. Sonho com cinco horas diárias de aula em uma escola com boa rotina pedagógica."


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