São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Solução pode ser tratar "cedo e forte'

da Reportagem Local

A existência de uma nova geração do HIV -que já chega à corrente sanguínea das novas vítimas com capacidade de resistir a algumas drogas- reafirma a tese "trate cedo e com força total".
A tese -defendida principalmente por pesquisadores norte-americanos- afirma que o uso isolado de uma ou duas drogas ajuda o vírus a se tornar mais forte. "Se houver essa resistência primária ao AZT nesses 15%, a saída é bater com força desde o início", afirma Vicente Amato Neto.
Em pacientes que contraem um vírus já resistente, o uso do AZT é muito prejudicial. Por dois motivos: 1º) porque, em vez de estar sendo combatido, o vírus está livre para continuar se replicando; 2º) os efeitos colaterais do AZT são imensos, principalmente para uma pessoa que já está fragilizada porque é portadora de um vírus como o HIV.
No Brasil, o AZT é um dos medicamentos usados no coquetel anti-Aids. Desde o início do ano passado, o governo brasileiro é obrigado por lei a fornecer todos os antiretrovirais.
O chamado coquetel é uma mistura de dois inibidores da transcriptase reversa (AZT é um deles) e um inibidor da protease (que agem nas fases final e inicial da multiplicação do vírus).
A escolha dos medicamentos é feita por uma comissão científica que dá consultoria ao ministério e se baseia em todos os trabalhos científicos publicados.
"Ainda não temos nenhuma evidência de que deveríamos trocar o AZT, mas poderemos fazer isso se ficar provado que já há um grupo grande que possui um vírus resistente a essa droga", afirma Amato Neto.

Estudo
Um levantamento pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo mostrou que o coquetel de drogas contra o vírus HIV falhou em 30% dos pacientes atendidos pela rede pública.
O estudo, realizado entre novembro de 1996 (início do uso do coquetel de drogas) a agosto de 1997, acompanhou cem pacientes que tomaram a combinação de remédios. Trinta deles tiveram que trocar o tratamento.
A secretaria não estudou os motivos da troca do tratamento. A maior causa seria a falta de aderência ao tratamento -devido às inúmeras reações negativas causadas pelas drogas, como náuseas, diarréias etc.
A resistência às drogas, no entanto, não foi descartada como uma das possíveis causas. Não há, no entanto, como medi-la em São Paulo porque o Brasil não faz estudos genéticos do vírus.
O resultado desse estudo não pode ser visto com pessimismo porque, no início do tratamento, muitas pessoas que foram tratadas já estavam em um estágio avançado da doença.
O coquetel anti-Aids ainda é -de longe- a melhor terapia contra a doença existente desde o início da epidemia. Ele consegue reduzir a zero a quantidade de vírus na corrente sanguínea de cerca de 80% das pessoas tratadas.
(LM)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.