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Imagens do subdesenvolvimento por Estados
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Paraíba: para que escrever
em um jornal se a Paraíba não
lê jornal? A Paraíba não lê jornal. O povo meio abestado não
sabe de nada, nunca soube.
No aeroporto de João Pessoa
-a capital da Paraíba-, procurei por um jornal na única
banca existente ali. A mulher
disse que não havia porque
não há.
- Como assim, "não há"?
- Não tem.
- Mas nem os jornais da Paraíba?
- Não. Antes eu trazia. Mas
como aqui só tem um vôo por
dia, parei de trazer porque ficava aí, não vendia.
Não tinha jornal algum, de
nenhum lugar do mundo. O
aeroporto de João Pessoa é sujo, tem moscas, as vidraças são
cheias de manchas de gordura
e faz um calor dos quintos dos
infernos porque não tem
ar-condicionado. Parece uma
rodoviária de cidade do interior.
Como era dia de domingo, o
aeroporto estava repleto de
matutos vendo avião subir e
descer. Povo pobre, meio mal
alimentado, meio mal-educado, fazendo algazarra, menino
correndo para todo canto.
São sempre umas famílias,
uns homenzinhos pequenos e
umas mulherzinhas pequenas,
exibindo seus bebês como se
fossem troféus. Todo mundo
vestindo roupa de domingo,
mais ou menos pobres.
Havia ainda as caricaturas
de classe média -a pior espécie-, os homenzinhos empunhando celulares, agitando no
ar as chaves dos automóveis.
Alguns tinham filmadoras.
Uma imitação de riqueza.
Uma gente burríssima.
Aquilo ia provocando uma
mistura de irritação com pena,
uma vontade de preconceito
declarado. Mas aí, bastava
olhar em outra direção para
enxergar uma placa hipócrita:
"Sala de Autoridades".
Autoridades? Autoridades o
caramba. Autoridade sou eu,
dava vontade de dizer. A sala
certamente abrigava a corja de
corruptos nordestinos, a gente
VIP daquela miséria de Estado. A Paraíba é dominada há
décadas pelos Cunha Lima da
vida, como Pernambuco é pelos Inocêncio de Oliveira, esse
tipo de câncer político nordestino. E o povo -sugado, esfolado- não sabe de nada.
São Paulo: em São Paulo a
realidade é outra. Basta desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos e ir
percorrendo de carro a marginal do rio Tietê. O rio Tietê é
um amontoado de cocô cercado de lixo e mato por todos os
lados. A marginal do rio Tietê,
salpicada de favelas de ponta a
ponta, deve ser a avenida mais
feia do mundo.
De São Paulo à Paraíba, o
Brasil é subdesenvolvido em
todo lugar. Aqui, o subdesenvolvimento tem nomes estrangeiros, como Maluf (que, graças a sua sensibilidade de concreto armado, mandou construir na cidade o viaduto mais
feio do mundo: o Minhocão).
Cada vez que sobe um malufista no governo, São Paulo enfeia drasticamente. São altos
índices de incompetência e
corrupção no poder. Está ficando uma das cidades mais
feias e subdesenvolvidas do
mundo.
O Brasil é subdesenvolvido
em todo lugar. No mais, é o seguinte: jornal não adianta. A
Paraíba não lê. Pode esquecer.
E-mailmfelinto@uol.com.br
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