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MEIO AMBIENTE
Produto com dioxina, que contaminou alimentos na Bélgica, oferece risco de vazamento na região de Santo André
SP tem maior depósito de cal contaminada
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
A cidade paulista de Santo André, em plena Grande São Paulo,
abriga o maior depósito do mundo
de cal contaminada com dioxina,
exatamente o mesmo produto encontrado em ração animal belga
que levou os países europeus a
proibir a importação de 1.100 produtos belgas de origem animal.
A dioxina é o nome genérico para
um grupo de mais de 200 compostos químicos tóxicos, subprodutos
involuntários de processos químicos que envolvem o cloro. É altamente cancerígena -razão pela
qual os produtos belgas foram interditados.
O depósito de Santo André pertence a uma multinacional belga, a
Solvay, tem tamanho equivalente
ao de 20 campos de futebol e abriga
1 milhão de toneladas de cal.
A partir de uma denúncia feita
pelo grupo ecologista Greenpeace,
o depósito foi interditado em agosto de 1998 pela Cetesb, a estatal responsável pelo controle da poluição
ambiental, que também vetou a
venda do produto lá armazenado.
Mas a interdição não resolve dois
problemas relacionados à cal contaminada.
O primeiro deles é a possibilidade de que o produto tóxico vaze,
principalmente para os rios e terrenos vizinhos, levado pelas águas
da chuva. A Solvay fica na fronteira
entre Santo André e Rio Grande da
Serra, ou seja, na área da represa
Billings, um dos principais mananciais de São Paulo.
Marcelo Furtado, coordenador
institucional da campanha de
substâncias tóxicas do Greenpeace, conta que, em recente visita de
inspetores europeus ao depósito, a
inspeção mal pôde ser feita, porque o depósito estava virtualmente
submerso em consequência das
fortes chuvas que haviam caído
naqueles dias na cidade.
O segundo problema é que ninguém sabe se a cal contaminada foi
ou não vendida para empresas que
fabricam adubos para ração animal, hipótese em que estaria recriada no Brasil a mesma situação
que levou à interdição de produtos
belgas. Ou seja, o animal ingere ração com uma substância cancerígena que, depois, termina no corpo humano, quando o animal é
consumido.
José Luiz Saikali, promotor de
Justiça da área de Meio Ambiente
de Santo André, disse ontem à Folha que não há elementos para dizer se a cal foi ou não vendida (antes, é lógico, da interdição pela Cetesb) para clientes habituais da
Solvay.
Entre os clientes habituais estão
grandes produtoras de fertilizantes, como a Solorico e a Manah,
além de uma pequena indústria
alimentícia, a Komida.
A Solvay não comercializa diretamente a cal. A venda é feita principalmente pela Carbotex Indústria e Comércio de Cal Ltda., instalada de toda forma no mesmo terreno de Solvay. Segundo o relatório do Greenpeace, também uma
firma chamada Minercal comercializa a cal da Solvay.
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