São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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MEIO AMBIENTE
Produto com dioxina, que contaminou alimentos na Bélgica, oferece risco de vazamento na região de Santo André
SP tem maior depósito de cal contaminada

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

A cidade paulista de Santo André, em plena Grande São Paulo, abriga o maior depósito do mundo de cal contaminada com dioxina, exatamente o mesmo produto encontrado em ração animal belga que levou os países europeus a proibir a importação de 1.100 produtos belgas de origem animal.
A dioxina é o nome genérico para um grupo de mais de 200 compostos químicos tóxicos, subprodutos involuntários de processos químicos que envolvem o cloro. É altamente cancerígena -razão pela qual os produtos belgas foram interditados.
O depósito de Santo André pertence a uma multinacional belga, a Solvay, tem tamanho equivalente ao de 20 campos de futebol e abriga 1 milhão de toneladas de cal.
A partir de uma denúncia feita pelo grupo ecologista Greenpeace, o depósito foi interditado em agosto de 1998 pela Cetesb, a estatal responsável pelo controle da poluição ambiental, que também vetou a venda do produto lá armazenado.
Mas a interdição não resolve dois problemas relacionados à cal contaminada.
O primeiro deles é a possibilidade de que o produto tóxico vaze, principalmente para os rios e terrenos vizinhos, levado pelas águas da chuva. A Solvay fica na fronteira entre Santo André e Rio Grande da Serra, ou seja, na área da represa Billings, um dos principais mananciais de São Paulo.
Marcelo Furtado, coordenador institucional da campanha de substâncias tóxicas do Greenpeace, conta que, em recente visita de inspetores europeus ao depósito, a inspeção mal pôde ser feita, porque o depósito estava virtualmente submerso em consequência das fortes chuvas que haviam caído naqueles dias na cidade.
O segundo problema é que ninguém sabe se a cal contaminada foi ou não vendida para empresas que fabricam adubos para ração animal, hipótese em que estaria recriada no Brasil a mesma situação que levou à interdição de produtos belgas. Ou seja, o animal ingere ração com uma substância cancerígena que, depois, termina no corpo humano, quando o animal é consumido.
José Luiz Saikali, promotor de Justiça da área de Meio Ambiente de Santo André, disse ontem à Folha que não há elementos para dizer se a cal foi ou não vendida (antes, é lógico, da interdição pela Cetesb) para clientes habituais da Solvay.
Entre os clientes habituais estão grandes produtoras de fertilizantes, como a Solorico e a Manah, além de uma pequena indústria alimentícia, a Komida.
A Solvay não comercializa diretamente a cal. A venda é feita principalmente pela Carbotex Indústria e Comércio de Cal Ltda., instalada de toda forma no mesmo terreno de Solvay. Segundo o relatório do Greenpeace, também uma firma chamada Minercal comercializa a cal da Solvay.


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