São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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Carta pede horas extras para prevenção

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Quatro horas extras por semana permitiriam aos professores da rede pública desenvolver projetos para reduzir a violência, o abuso de drogas, a gravidez na adolescência e o aumento de novos casos de Aids. Nesse "mutirão" oficial, as escolas seriam transformadas em espaços de cultura e ponto de encontro da comunidade.
Os custos de uma empreitada assim seriam menores que os despendidos na reforma de escolas depredadas.
A tese das "horas extras" e dos "projetos" consta do documento final do 3º Educaids, Encontro Nacional dos Educadores na Prevenção da Aids, realizado esta semana em São Paulo. Uma carta com essa proposta será encaminhada ao MEC e às secretarias de Estado da Educação na próxima semana.
A idéia defendida pelos participantes do Educaids significa uma evolução dos conceitos adotados até recentemente na prevenção à Aids entre crianças e adolescentes. Sabe-se hoje que os fatores que levam um jovem a dispensar a camisinha são os mesmos que o levam à violência ou a dirigir alcoolizado.
Trata-se do conceito de vulnerabilidade, uma série de fatores que leva o adolescente a adotar comportamentos que colocam em perigo sua vida e sua saúde.
"Antes de pôr ou não um preservativo, o jovem se apaixona, se envolve com drogas, com violência, se deprime, vive o desemprego à sua volta", diz Teresinha Reis Pinto, presidente da Apta (Associação para Prevenção e Tratamento da Aids), que promoveu o Educaids.
Os participantes do encontro concluíram que projetos desenvolvidos entre a escola e a comunidade, envolvendo professores, pais, alunos e vizinhos, poderiam reduzir os riscos desse caldo de cultura. "A escola e o professor são instituições que ainda conservam grande respeito", diz Teresinha.
Para se preparar e se envolver nos projetos, os professores precisariam de um número determinado de horas extras, que seriam utilizadas à noite, aos sábados e no final do seus turnos.
Participantes do Educaids lembraram que experiência semelhante foi desenvolvida quando Paulo Freire dirigiu a Secretaria Municipal da Educação, na administração Luiza Erundina. Segundo Teresinha, parte dos professores passaram a dedicar dez horas extras semanais e a folha de pagamento da secretaria aumentou em menos de 1%. "Quatro horas seriam suficientes para mudar a cara da escola e da epidemia do país", diz a presidente da Apta. "Os custos seriam menores que os exigidos na reforma de escolas depredadas."
A idéia dos projetos escola-comunidade lembra os "temas transversais" implantados pelo MEC. O problema é que os "temas" não contemplam a preparação dos professores, nem horário extra para o desenvolvimento de ações, afirma Rosana Gregori, socióloga e educadora da Ecos, Estudo e Comunicação em Sexualidade. "Os novos parâmetros do MEC dão as premissas, mas não dão condições efetivas para motivar um professor com baixos salários."
A Ecos desenvolve trabalhos de prevenção em escolas particulares da capital. "Estamos tentando adaptar o trabalho à grade escolar, já que o professor não ganha para isso. Acabamos fazendo o contato direto com os alunos, quando o ideal seria o envolvimento de toda a comunidade escolar."


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