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Carta pede horas extras para prevenção
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Quatro horas extras por semana
permitiriam aos professores da rede pública desenvolver projetos
para reduzir a violência, o abuso de
drogas, a gravidez na adolescência
e o aumento de novos casos de
Aids. Nesse "mutirão" oficial, as
escolas seriam transformadas em
espaços de cultura e ponto de encontro da comunidade.
Os custos de uma empreitada assim seriam menores que os despendidos na reforma de escolas
depredadas.
A tese das "horas extras" e dos
"projetos" consta do documento
final do 3º Educaids, Encontro Nacional dos Educadores na Prevenção da Aids, realizado esta semana
em São Paulo. Uma carta com essa
proposta será encaminhada ao
MEC e às secretarias de Estado da
Educação na próxima semana.
A idéia defendida pelos participantes do Educaids significa uma
evolução dos conceitos adotados
até recentemente na prevenção à
Aids entre crianças e adolescentes.
Sabe-se hoje que os fatores que levam um jovem a dispensar a camisinha são os mesmos que o levam à
violência ou a dirigir alcoolizado.
Trata-se do conceito de vulnerabilidade, uma série de fatores que
leva o adolescente a adotar comportamentos que colocam em perigo sua vida e sua saúde.
"Antes de pôr ou não um preservativo, o jovem se apaixona, se envolve com drogas, com violência,
se deprime, vive o desemprego à
sua volta", diz Teresinha Reis Pinto, presidente da Apta (Associação
para Prevenção e Tratamento da
Aids), que promoveu o Educaids.
Os participantes do encontro
concluíram que projetos desenvolvidos entre a escola e a comunidade, envolvendo professores, pais,
alunos e vizinhos, poderiam reduzir os riscos desse caldo de cultura.
"A escola e o professor são instituições que ainda conservam grande
respeito", diz Teresinha.
Para se preparar e se envolver
nos projetos, os professores precisariam de um número determinado de horas extras, que seriam utilizadas à noite, aos sábados e no final do seus turnos.
Participantes do Educaids lembraram que experiência semelhante foi desenvolvida quando Paulo
Freire dirigiu a Secretaria Municipal da Educação, na administração
Luiza Erundina. Segundo Teresinha, parte dos professores passaram a dedicar dez horas extras semanais e a folha de pagamento da
secretaria aumentou em menos de
1%. "Quatro horas seriam suficientes para mudar a cara da escola e da
epidemia do país", diz a presidente
da Apta. "Os custos seriam menores que os exigidos na reforma de
escolas depredadas."
A idéia dos projetos escola-comunidade lembra os "temas transversais" implantados pelo MEC. O
problema é que os "temas" não
contemplam a preparação dos
professores, nem horário extra para o desenvolvimento de ações,
afirma Rosana Gregori, socióloga e
educadora da Ecos, Estudo e Comunicação em Sexualidade. "Os
novos parâmetros do MEC dão as
premissas, mas não dão condições
efetivas para motivar um professor
com baixos salários."
A Ecos desenvolve trabalhos de
prevenção em escolas particulares
da capital. "Estamos tentando
adaptar o trabalho à grade escolar,
já que o professor não ganha para
isso. Acabamos fazendo o contato
direto com os alunos, quando o
ideal seria o envolvimento de toda
a comunidade escolar."
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