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VIOLÊNCIA
Para o secretário de Segurança Pública do Rio, as 11 mortes em Vigário Geral não significam guerra de traficantes
Garotinho diz que matança em favela foi "episódio"
MURILO FIUZA DE MELO
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, Anthony
Garotinho (PSB), afirmou ontem
que a matança de 11 pessoas na favela de Vigário Geral (zona norte)
"foi um episódio". De acordo com
ele, não existe na favela uma guerra de facções criminosas.
"Não existe guerra. Foi um episódio, a polícia está lá e não vai
mais se repetir", disse.
Segundo o secretário, um traficante de uma facção criminosa
aderiu à facção rival e delatou os
antigos comparsas.
Em Vigário Geral, a disputa pelo
controle da venda de drogas opõe
as facções CV (Comando Vermelho) e TC (Terceiro Comando),
que controla o tráfico em Parada
de Lucas (favela vizinha).
"Fizeram uma emboscada e
mataram sete criminosos. No dia
seguinte, os criminosos atingidos
tentaram outro enfrentamento. A
polícia reagiu e matou quatro
bandidos", disse Garotinho.
Os sete mortos eram membros
do Comando Vermelho em Vigário Geral. Foram assassinados por
traficantes do Terceiro Comando
de Parada de Lucas.
Garotinho fez as declarações
após assistir ao filme "Tiros em
Columbine", de Michael Moore,
em uma sessão pública. O secretário aproveitou o filme de Moore,
um ataque à cultura armamentista da sociedade norte-americana,
para criticar a imprensa.
"A mídia joga um papel importante na violência subjetiva? Claro
que sim, mas não é culpa do jornalista. É culpa de uma cultura
que vem de anos. A mídia do Rio
cobra a solução de um crime e
tem razão de cobrar. Mas a de São
Paulo, por exemplo, não pergunta
quem é o assassino do segurança
do filho do Lula, o que daria primeira página todo dia."
O advogado Jorge Santoro Filho, que defende o traficante José
Roberto da Silva, o Robertinho de
Lucas, disse que seu cliente não
comandou a matança.
"A polícia não sabe quem é o
chefe do tráfico em Parada de Lucas e coloca a culpa no Robertinho. Eles têm que se atualizar. José Roberto me disse que desde
que foi solto, no dia 12 de dezembro, não mais voltou a Lucas",
afirmou Santoro Filho, para
quem a exposição do seu cliente
como autor de crimes em Vigário
Geral dificulta a sua regeneração.
Enterro
Ontem, cerca de 150 moradores
acompanharam o enterro dos sete traficantes. Coroas de flores
com a inscrição "Por Deus, pela
família e pelo CV" enfeitavam os
caixões. Algumas mulheres, parentes dos mortos, passaram mal.
Uma moradora, que se identificou como Ana Paula, 19, disse que
teve que abandonar sua casa. Ela
afirmou ter medo de ser morta
numa nova invasão do TC.
Homicídios
O número de assassinatos em
Vigário Geral caiu 29% na comparação de maio deste ano com
maio do ano passado.
Com relação a abril deste ano,
os homicídios cresceram 400%
em maio. Foram dois em abril,
contra dez em maio.
Em maio de 2002, foram registrados 14 homicídios.
Nos últimos dez meses contabilizados, 58 pessoas foram mortas
em Vigário Geral, segundo dados
oficiais divulgados pela Secretaria
de Segurança do Rio.
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