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São Paulo, sábado, 19 de julho de 2003

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VIOLÊNCIA

Para o secretário de Segurança Pública do Rio, as 11 mortes em Vigário Geral não significam guerra de traficantes

Garotinho diz que matança em favela foi "episódio"

MURILO FIUZA DE MELO
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, Anthony Garotinho (PSB), afirmou ontem que a matança de 11 pessoas na favela de Vigário Geral (zona norte) "foi um episódio". De acordo com ele, não existe na favela uma guerra de facções criminosas.
"Não existe guerra. Foi um episódio, a polícia está lá e não vai mais se repetir", disse.
Segundo o secretário, um traficante de uma facção criminosa aderiu à facção rival e delatou os antigos comparsas.
Em Vigário Geral, a disputa pelo controle da venda de drogas opõe as facções CV (Comando Vermelho) e TC (Terceiro Comando), que controla o tráfico em Parada de Lucas (favela vizinha).
"Fizeram uma emboscada e mataram sete criminosos. No dia seguinte, os criminosos atingidos tentaram outro enfrentamento. A polícia reagiu e matou quatro bandidos", disse Garotinho.
Os sete mortos eram membros do Comando Vermelho em Vigário Geral. Foram assassinados por traficantes do Terceiro Comando de Parada de Lucas.
Garotinho fez as declarações após assistir ao filme "Tiros em Columbine", de Michael Moore, em uma sessão pública. O secretário aproveitou o filme de Moore, um ataque à cultura armamentista da sociedade norte-americana, para criticar a imprensa.
"A mídia joga um papel importante na violência subjetiva? Claro que sim, mas não é culpa do jornalista. É culpa de uma cultura que vem de anos. A mídia do Rio cobra a solução de um crime e tem razão de cobrar. Mas a de São Paulo, por exemplo, não pergunta quem é o assassino do segurança do filho do Lula, o que daria primeira página todo dia."
O advogado Jorge Santoro Filho, que defende o traficante José Roberto da Silva, o Robertinho de Lucas, disse que seu cliente não comandou a matança.
"A polícia não sabe quem é o chefe do tráfico em Parada de Lucas e coloca a culpa no Robertinho. Eles têm que se atualizar. José Roberto me disse que desde que foi solto, no dia 12 de dezembro, não mais voltou a Lucas", afirmou Santoro Filho, para quem a exposição do seu cliente como autor de crimes em Vigário Geral dificulta a sua regeneração.

Enterro
Ontem, cerca de 150 moradores acompanharam o enterro dos sete traficantes. Coroas de flores com a inscrição "Por Deus, pela família e pelo CV" enfeitavam os caixões. Algumas mulheres, parentes dos mortos, passaram mal.
Uma moradora, que se identificou como Ana Paula, 19, disse que teve que abandonar sua casa. Ela afirmou ter medo de ser morta numa nova invasão do TC.

Homicídios
O número de assassinatos em Vigário Geral caiu 29% na comparação de maio deste ano com maio do ano passado.
Com relação a abril deste ano, os homicídios cresceram 400% em maio. Foram dois em abril, contra dez em maio.
Em maio de 2002, foram registrados 14 homicídios.
Nos últimos dez meses contabilizados, 58 pessoas foram mortas em Vigário Geral, segundo dados oficiais divulgados pela Secretaria de Segurança do Rio.


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