São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

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DROGAS 3
Desafio é impedir proliferação
ONU quer deter avanço do ecstasy

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

O combate ao tráfico e a prevenção do uso de drogas no mundo têm hoje dois desafios: dizimar 1,3 milhão de hectares de plantações de cocaína, papoula (com a qual se produz o ópio) e maconha e impedir a proliferação da considerada droga do século 21, a anfetamina -cujo principal expoente, entre as ilegais, é o ecstasy (MDMA).
No entanto, para superar essas metas, os países interessados terão de enfrentar outros dois problemas: de um lado, uma organização globalizada e moderna de traficantes, do outro, uma amadora e desorganizada linha de produção de drogas sintéticas (anfetaminas), mas que já tem em mãos, segundo a ONU, 30 milhões de consumidores no mundo -mais do que a soma dos usuários de coca e heroína (21,3 milhões).
Para o primeiro desafio, o UNDCP (Programa das Nações Unidas para o Controle Internacional de Drogas) fixou dez anos.
"A meta é acabar com a produção das plantas que originam a maconha, o ópio e a cocaína até 2008. No entanto, é preciso haver vontade política dos países", diz o chefe de Operações do UNDCP, o italiano Giovanni Quaglia.
Para isso, terão de ser controlados, segundo dados da ONU, 265,7 mil hectares de papoula, 179,2 mil hectares de coca e 940 mil hectares de maconha -estimativas mundiais de 1997.
No entanto, esse combate não significa apenas repressão. "Temos de combater a economia do crime organizado para chegar ao grande traficante. Há a necessidade de pôr em prática leis de lavagem de dinheiro", afirma Walter Maierovitch, que recentemente aceitou indicação para a chefiar a Secretaria Nacional Antidrogas.
"Os traficantes utilizam a melhor tecnologia e os melhores profissionais para movimentar o dinheiro rapidamente dentro do sistema financeiro. Com isso, dificultam o processo de investigação. Precisamos operar com a mesma rapidez", afirma Quaglia.
Segundo o presidente do Confen (Conselho Federal de Entorpecentes), Luiz Matias Flach, essa característica de agilidade no mercado financeiro e o desprezo pelas fronteiras conferem ao narcotráfico o modelo globalizado.
"Se há um fenômeno onde a globalização se apresenta como evidente é o das drogas. É uma atividade lucrativa que envolve o mundo todo", diz Flach.
O outro desafio é o controle da expansão desenfreada das anfetaminas. "A questão das drogas ficou desarrumada com o surgimento dos sintéticos, que são a grande ameaça para o século 21."
"A anfetamina é o grande problema que temos a enfrentar. Em qualquer cidade você pode encontrar estabelecimentos familiares que a produzem. Não há necessidade da indústria farmacêutica", afirma Quaglia.
De acordo com ele, no momento, apenas os programas de prevenção podem impedir o avanço das anfetaminas.



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