São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

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Uso constante pode afetar cérebro e levar à morte

da Reportagem Local

O uso crônico de anfetaminas, entre elas o ecstasy (MDMA), pode ocasionar degeneração das células do cérebro e levar o indivíduo à morte.
Segundo o coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Dartiu Xavier da Silveira, os efeitos nocivos das anfetaminas são semelhantes aos da cocaína ou do crack.
"As anfetaminas, como a cocaína e o crack são do grupo das drogas estimulantes. Os efeitos são parecidos. Há risco de problemas cardiovasculares, de lesões cerebrais irreversíveis e de demência."
Segundo ele, o consumo crônico de anfetamina pode ocasionar pequenos infartos cerebrais. "A pessoa perde a atenção, a concentração, a memória e a concepção de organização espacial."
De acordo com ele, a droga pode levar à morte súbita quando se agravam os distúrbios de condução do estímulo cardíaco.
Silveira aponta ainda outro problema gerado pelas anfetaminas. "Se a pessoa tem predisposição para quadros psicológicos como pânico ou psicose maníaco-depressiva, o consumo pode desencadear esses problemas."
Para o coordenador do Proad, o problema das anfetaminas ilegais é que "além de provocar os efeitos nocivos das legais, não possuem controle de qualidade".
Silveira disse que casos de pessoas usuárias de ecstasy chegam pouco aos serviços de atendimento de dependentes de droga porque esse tipo de anfetamina tem um padrão de uso diferente.
"O ecstasy é uma droga que se caracteriza pelo uso esporádico, não causando dependência. Ela é usada socialmente, principalmente em festas noturnas. O usuário não sente necessidade de procurar um serviço de atendimento. Isso é ruim, porque o usuário só vai ser encaminhado em caso de emergência", afirmou o médico.
Segundo Silveira, o maior problema decorrente do uso do ecstasy é a desidratação.
"A pessoa que toma ecstasy perde muita água e, muitas vezes, não identifica a sede. Pode entrar em um quadro de hipertermia (excesso de elevação da temperatura do corpo) e morrer."
O empresário e DJ Carlos Slinger, que mora em Nova York há dez anos, confirma que o ecstasy é hoje uma droga comum no exterior. "As pessoas tomam regularmente, todos os finais de semana."
Para Slinger, é preciso encarar as drogas com menos preconceito. "Na Holanda e na Inglaterra existem postos médicos dentro das raves (festas com megaprodução onde se toca tecno) para testar o seu ecstasy. A pessoa vai ao posto e mostra a pílula. Ele (o especialista) raspa um pouquinho e fala que isso é outra anfetamina ou que está misturado com heroína. A sociedade está preocupada com o jovem, em vez de condená-lo."
"Eu não estou recomendando usar ou não. Mas se você for usar, que use com informação", completou Slinger, para quem o ecstasy é o "Viagra do cérebro". (AL)


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