São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

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PARTEIRAS DA FLORESTA
Encontro no Amapá vai reunir 400 mulheres
Aparadeira de bebê ensina 'o bom nascer'

AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Macapá

Parteiras da floresta amazônica estão ensinando os cuidados e os segredos de um "bom nascer". A fórmula dessas mulheres está na paciência, no escutar atento, no saber a hora e no respeito aos desejos das parideiras.
As "aparadeiras de bebês" estão sendo ouvidas no 1º Encontro Internacional de Parteiras da Floresta, que reúne neste final de semana em Macapá (AP) mais de 400 mulheres da Amazônia e países da Europa e América Latina.
Os "segredos" que as parteiras da floresta vêm ensinando são os mesmos pregados por grupos ligados a universidades, ONGs e por alguns serviços do Ministério da Saúde. Formam o conceito de parto humanizado, onde mãe e criança são respeitadas.
Dados oficiais sugerem que entre as 2,8 milhões de crianças nascidas em 1996, no país, pelo menos 500 mil vieram ao mundo fora dos hospitais, ou seja, pelas mãos das parteiras -pouco mais de 15% do total. No Brasil inteiro, seriam 60 mil as mulheres que se dedicam ao que elas mesmas classificam de uma "missão" e uma "graça". Desse total, 40 mil estariam nas regiões Norte e Nordeste.
O encontro das parteiras da floresta é promovido pelo Governo do Amapá em parceria com a Rede Nacional das Parteiras Tradicionais e da ONG Cais do Parto, do Recife. É apoiado também pelo Ministério da Saúde e pela Unicef.
Segundo coordenadoras da Rede Nacional, o Amapá foi escolhido para o encontro por ser pioneiro num programa conhecido como Parteiras Tradicionais. Cerca de 370 parteiras cadastradas estão sendo recicladas e já receberam um kit com balança para pesar o bebê, toalhas e lanterna para as saídas à noite, no meio da mata. A iniciativa está entre os 20 finalistas do programa "Gestão Pública e Cidadania-98", premiados pelas fundações Getúlio Vargas e Ford.
O encontro das parteiras da floresta acontece no momento em que o Ministério da Saúde passa a remunerar o trabalho de parto das enfermeiras obstetrizes. Até agora, apenas o médico ganhava por isso, mesmo que o procedimento fosse feito por uma enfermeira.
As parteiras tradicionais, no entanto, ainda não são remuneradas nem reconhecidas, afirma Suely Carvalho, 47, enfermeira e parteira há 22 anos e uma das coordenadoras da Rede Nacional de Parteiras e da ONG Cais do Parto.
Suely faz partos em Olinda e Recife, atendendo mulheres que têm seus filhos em casa por opção. "Lutamos para que a mulher tenha o direito de escolher", afirma Dayse Reis, do Cais do Parto. "Se preferir o hospital, que seja atendida com respeito."


O jornalista Aureliano Biancarelli viajou a convite do Governo do Estado do Amapá



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