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PARTEIRAS DA FLORESTA
Encontro no Amapá vai reunir 400 mulheres
Aparadeira de bebê ensina 'o bom nascer'
AURELIANO BIANCARELLI
enviado especial a Macapá
Parteiras da floresta amazônica
estão ensinando os cuidados e os
segredos de um "bom nascer". A
fórmula dessas mulheres está na
paciência, no escutar atento, no
saber a hora e no respeito aos desejos das parideiras.
As "aparadeiras de bebês" estão sendo ouvidas no 1º Encontro
Internacional de Parteiras da Floresta, que reúne neste final de semana em Macapá (AP) mais de
400 mulheres da Amazônia e países da Europa e América Latina.
Os "segredos" que as parteiras
da floresta vêm ensinando são os
mesmos pregados por grupos ligados a universidades, ONGs e por
alguns serviços do Ministério da
Saúde. Formam o conceito de parto humanizado, onde mãe e criança são respeitadas.
Dados oficiais sugerem que entre as 2,8 milhões de crianças nascidas em 1996, no país, pelo menos
500 mil vieram ao mundo fora dos
hospitais, ou seja, pelas mãos das
parteiras -pouco mais de 15% do
total. No Brasil inteiro, seriam 60
mil as mulheres que se dedicam ao
que elas mesmas classificam de
uma "missão" e uma "graça".
Desse total, 40 mil estariam nas regiões Norte e Nordeste.
O encontro das parteiras da floresta é promovido pelo Governo
do Amapá em parceria com a Rede
Nacional das Parteiras Tradicionais e da ONG Cais do Parto, do
Recife. É apoiado também pelo
Ministério da Saúde e pela Unicef.
Segundo coordenadoras da Rede
Nacional, o Amapá foi escolhido
para o encontro por ser pioneiro
num programa conhecido como
Parteiras Tradicionais. Cerca de
370 parteiras cadastradas estão
sendo recicladas e já receberam
um kit com balança para pesar o
bebê, toalhas e lanterna para as
saídas à noite, no meio da mata. A
iniciativa está entre os 20 finalistas
do programa "Gestão Pública e
Cidadania-98", premiados pelas
fundações Getúlio Vargas e Ford.
O encontro das parteiras da floresta acontece no momento em
que o Ministério da Saúde passa a
remunerar o trabalho de parto das
enfermeiras obstetrizes. Até agora, apenas o médico ganhava por
isso, mesmo que o procedimento
fosse feito por uma enfermeira.
As parteiras tradicionais, no entanto, ainda não são remuneradas
nem reconhecidas, afirma Suely
Carvalho, 47, enfermeira e parteira há 22 anos e uma das coordenadoras da Rede Nacional de Parteiras e da ONG Cais do Parto.
Suely faz partos em Olinda e Recife, atendendo mulheres que têm
seus filhos em casa por opção.
"Lutamos para que a mulher tenha o direito de escolher", afirma
Dayse Reis, do Cais do Parto. "Se
preferir o hospital, que seja atendida com respeito."
O jornalista
Aureliano Biancarelli viajou a convite do Governo do Estado do Amapá
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