WAGNER OLIVEIRA
da Agência Folha, em Bauru

Uma pesquisa da Polícia Militar indica que cerca de 60% das ocorrências atendidas pela corporação em Bauru são "desvios de função", o que acaba prejudicando sua atuação e deixando a sociedade mais desprotegida.
O comandante da 1ª Companhia da Polícia Militar, o capitão Benedito Roberto Meira, afirma que a PM gasta mais tempo atendendo a trotes e solicitações que não são de sua competência do que fazendo policiamento ostensivo e preventivo -obrigações constitucionais.
Atendimento a gestantes, transporte de idosos, busca a adolescentes infratores, atendimento a doentes, apoio a outras instituições públicas, são algumas das "ocorrências sociais" que a PM considera como desvio de função.
No ano passado, a PM atendeu em Bauru (340 km a noroeste de SP) 47.084 ocorrências. Desse total, apenas 40% estavam ligadas ao policiamento preventivo e ostensivo, como a prisão de criminosos.
Para Meira, o deslocamento da PM para ocorrências que não implicam necessariamente sua presença prejudica o trabalho.
"A Polícia Militar acaba sobrecarregada. Quem perde é a população, que fica sem proteção."

Enfermeiro fardado
O pronto-socorro de Bauru tem apenas uma ambulância funcionando regularmente para atender 340 mil moradores da região.
Desprotegida, a população de baixa renda acaba recorrendo ao serviço do 190, telefone que aciona a PM para o atendimento de ocorrências 24 horas por dia.
No primeiro semestre do ano passado, a PM atendeu a 11 gestantes que necessitavam de ajuda para se deslocar até o hospital.
No mesmo período deste ano, foram 66 atendimentos. Em três casos em 1997, foram os policiais que acabaram fazendo o parto das gestantes.
Apesar de terem tido instrução durante a academia de soldados, os PMs afirmam que a situação é de risco, podendo causar morte da mãe e da criança.
Até o comandante da 1ª Companhia da Polícia Militar de Bauru já fez um parto.
Meira disse também que a PM perde muito tempo atendendo "desinteligência", ocorrência que envolve normalmente discussão de marido e mulher. Esses casos somaram cerca de 19% das ocorrências atendidas pela Polícia Militar no ano passado.
No primeiro semestre deste ano, a PM atendeu, por exemplo, 363 ocorrências de roubo. No mesmo período, foram 1.749 atendimentos a "desinteligências".
Outro grave problema são atendimentos a trotes. No ano passado, houve deslocamento do efetivo da polícia para atender 6.213 chamadas falsas.




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