São Paulo, domingo, 19 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE
Frio aumenta dores nas costas em 20%

RICARDO ZORZETTO
da Reportagem Local

O inverno pode agravar um problema que o homem herdou de seus ancestrais, quando estes começaram a andar sobre duas pernas, há cerca de 4 milhões de anos: as dores nas costas por problemas ósseos e musculares.
Com o frio, há um aumento de cerca de 20% no número de pessoas com reclamação de dores nas costas, segundo Tarcísio Pessoa de Barros Filho, professor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (OIT), da Universidade de São Paulo.
De acordo com Barros Filho, isso ocorre porque as pessoas mudam seus hábitos de exercício físico e ficam mais encolhidas.
"Dessa forma, a musculatura fica mais retraída e há diminuição da circulação sanguínea, agravando o quadro de dor", explica.
Apesar de aumentar no inverno, as lombalgias, nome técnico para as dores nas costas, são um problema bastante comum que mais cedo ou mais as pessoas vão enfrentar.
"Estudos mostram que cerca de 70% da população com idade entre 40 e 50 anos já teve pelo menos um episódio importante de dor nas costas", disse Barros Filho.
Entre os casos de lombalgias, a maior incidência é das dores causadas por problemas musculares, 60% dos casos.
Segundo o ortopedista, elas são causadas, em geral, por retração dos músculos devido à má postura, esforço físico, movimentos repetitivos feitos de maneira errada e predisposição genética.
Em 30% dos casos, as dores são causadas por doenças degenerativas decorrentes do processo de envelhecimento do corpo, como a osteoporose (rarefação dos ossos), a hérnia de disco e a artrose (degeneração das articulações).
O restante tem causas diversas: fratura da vértebra por fadiga, inflamações e tumores.
Os especialistas em coluna entrevistados pela Folha disseram que, nos casos agudos, terapias com medicamentos, massagens e acupuntura ajudam a aliviar a maior parte das dores (de origem óssea e muscular).
Mas, nos casos crônicos, os remédios e outras terapias funcionam apenas como paliativos e dificilmente curam a doença.
A melhor forma de tratar o problema é evitando-o, afirmam os médicos.
Para isso, eles aconselham que a pessoa pratique atividade física com regularidade, mantenha postura correta para realizar suas atividades diárias e evite atividades que sobrecarreguem a coluna.
Partindo desse princípio, há cerca de quatro anos surgiu em São Paulo uma escola com o objetivo de reeducar os pacientes com dores crônicas.
Na Escola de Coluna, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Universidade de São Paulo, essas pessoas são reeducadas para realizar suas atividades cotidianas sem agredir a coluna.
O programa, que por enquanto atende apenas pacientes do Hospital das Clínicas, é o primeiro do país a envolver o trabalho de especialistas de diversas áreas, segundo Satiko Imamura, diretora do setor de reabilitação do IOT e uma das fundadoras da escola.
"Na escola, não se trata a doença. A meta é educar a pessoa com problema de dor crônica a prevenir as crises. Ela não sai curada, porque a coluna se degenera ao longo do tempo, mas ela passa a controlar a doença", disse Anita de Castro, coordenadora do programa do HC.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.