São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Arquitetos defendem reconstrução do projeto de Rino Levi

Desenho original do Teatro Cultura Artística está arquivado na FAU, a faculdade de arquitetura e urbanismo da USP

Professores ressaltam dois aspectos da importância histórica e cultura do teatro, a acústica e a presença do mosaico de Di Cavalcanti


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Projetado por Rino Levi, o teatro Cultura Artística, destruído num incêndio de causa ainda desconhecida neste fim de semana, pode ser reconstruído, na avaliação de especialistas no legado da obra do expoente e um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil.
O projeto original está arquivado na FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, segundo Lúcio Gomes Machado e Renato Anelli, dois dos maiores estudiosos brasileiros da criação de Levi, com livros e teses publicados.
Para Anelli, coordenador do programa de arquitetura e urbanismo da USP-São Carlos, a arquitetura moderna não tem "preciosismos" do ponto de vista da manufatura da produção, que dificultariam a reconstrução do prédio. "O teatro poderia ser reconstruído, com algumas adaptações para condições mais contemporâneas, desde que feito com cuidado e que sejam preservados seus pontos principais, que são a volumetria e o mosaico", diz.
Machado, professor da FAU e ex-conselheiro do Conpresp e do Condephaat, órgãos de proteção do patrimônio histórico, afirma que "é preciso lutar para que o Cultura Artística seja reconstruído".
"Tem de reconstruir o teatro porque ele em si é muito importante. A construção não depende de artesão, que seria o empecilho maior", completa.
"Além de reconstruído, o teatro pode ser modernizado", diz o arquiteto Paulo Bruna, também professor da USP e ex-estagiário do próprio Rino Levi.
Os três arquitetos ressaltam dois aspectos da importância histórica e cultural do teatro: a acústica e o mosaico na fachada, obra de Di Cavalcanti.
"No teatro, Rino desenvolveu um jeito de projetar as paredes, o teto, com a acústica. Foi a primeira vez que se fez um teatro com novas técnicas de cálculo de acústica e visibilidade da platéia", diz Anelli.
"O Cultura Artística, para a época, era muito avançado. A acústica era perfeita, muito boa, mas a cobertura era de madeira. Por isso pegou fogo", completa Machado.

Patrimônio
Segundo o Condephaat, o teatro estava em estudo de tombamento desde 1995, mas o prédio já estava sob proteção provisória e qualquer mudança, mesmo a pintura de uma parede, precisaria de permissão.
O Condephaat, que diz não saber informar o que vai ocorrer após o incêndio, afirma que não havia previsão para oficializar o tombamento. Apesar disso, os bens culturais mais importantes de São Paulo entraram na proteção do Plano Diretor. Na próxima segunda, o conselho se reúne e é possível que a discussão sobre a destruição do teatro entre em pauta.
Para Machado, a reconstrução pode ser questionada por arquitetos "puristas", que classificariam o novo teatro de "falso". "Não tem isso. É um objeto da indústria. Antigo ou novo, ele vai ser o mesmo. Não tem nenhuma idéia de tratamento artesanal e artístico."
"A riqueza do Cultura Artística é uma interpretação nova de teatro, que não tinha, é original. Temos de lutar para que seja reconstruído", completa.


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