São Paulo, quarta-feira, 19 de agosto de 2009

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Médico comete abuso desde 70, diz promotor

Caso de uma mulher de Campinas que diz ter sido molestada por Roger Abdelmassih há quase 40 anos foi citado na denúncia

Advogados de defesa negam as acusações de estupro de funcionária e pacientes; eles pediram habeas corpus para tentar libertar o cliente


ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual de São Paulo afirma na denúncia apresentada à Justiça que o médico Roger Abdelmassih, 65, pratica crimes sexuais desde o início da carreira, há cerca de 40 anos, e apenas preso irá parar de cometê-los.
Esse foi um dos argumentos utilizados pelos promotores para justificar o pedido de prisão preventiva apresentado ao juiz Bruno Paes Stranforini, da 16ª Vara Criminal. O médico, um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida do país, está na carceragem do 40º Distrito Policial, na Vila Santa Maria (zona norte de SP).
A defesa, que refuta as acusações, entrou com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo para tentar libertar Abdelmassih. A decisão -se ele continua ou não preso- deve ser conhecida hoje (leia texto na página C7).
A afirmação da Promotoria de que o médico pratica crimes desde a década de 70 é baseada no depoimento de uma mulher de Campinas. O nome dela não foi divulgado no documento.
A mulher procurou os promotores para contar que, há quase 40 anos, teve cólicas renais e foi atendida no SUS. Segundo o depoimento, Abdelmassih, no começo de carreira, era o médico de plantão.
Segundo a vítima, o médico fez propostas sexuais e passou o pênis por seu corpo. Mencionado pelos promotores como exemplo de que Abdelmassih tem uma personalidade voltada para crimes sexuais, esse caso já está prescrito.
Ao todo, o médico foi denunciado sob acusação de 56 estupros contra 39 mulheres. Uma delas, a primeira a acusá-lo, era funcionária da clínica. As outras eram pacientes.
A denúncia foi feita com base em legislação que passou a vigorar no último dia 7, pela qual passa a ser considerado como estupro o crime que antes era definido como "ato libidinoso". Pela antiga lei, seriam 53 atentados violentos ao pudor (atos libidinosos) e três estupros (em que há conjunção carnal).
Nos depoimentos, as mulheres acusam o médico de tentar beijá-las ou acariciá-las quando seus maridos ou a enfermeira não estavam na sala. Em três casos há relatos de ato sexual.
Na denúncia, segundo pessoas que tiveram acesso ao documento, a Promotoria classifica o médico como frio e sem freios morais.
Além dos crimes sexuais, Abdelmassih passou a ser investigado também por suspeita de sonegação fiscal e pela suposta execução de procedimentos médicos não permitidos pela legislação brasileira.
Ele é suspeito de fazer "sexagem" (método que permite a escolha do sexo dos bebês) e usar material genético de mulheres mais novas em mulheres mais velhas (prática conhecida como "turbinagem"), procedimentos não autorizados.
Na área fiscal, está sob investigação a afirmação de ex-pacientes de que a clínica do médico oferecia dois preços -com ou sem nota fiscal. Sem nota, o serviço seria mais barato. A defesa nega essas suspeitas.

Cárcere
Preso em uma das cinco celas do 40º DP, Abdelmassih divide com outro preso um recinto de aproximadamente 25 metros quadrados. Ao todo, seis presos com curso superior estão no distrito atualmente.
Desde que chegou, na noite de anteontem, o médico se alimentou com os chamados "bandecos", a alimentação fornecida ao preso pelo Estado.
Normalmente, o cardápio inclui arroz, feijão, carne -bife ou frango-, pão e sobremesa (banana ou gelatina).
Ontem, o motorista do médico levou roupas ao DP. Por estar à espera de vaga em alguma penitenciária, Abdelmassih não é obrigado a usar uniforme.
Caso a Justiça não revogue sua prisão preventiva, o médico deverá ser levado para a Penitenciária de Tremembé (147 km de São Paulo).


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