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Médico comete abuso desde 70, diz promotor
Caso de uma mulher de Campinas que diz ter sido molestada por Roger Abdelmassih há quase 40 anos foi citado na denúncia
Advogados de defesa negam as acusações de estupro de funcionária e pacientes;
eles pediram habeas corpus
para tentar libertar o cliente
ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Estadual de São Paulo afirma na denúncia apresentada à Justiça
que o médico Roger Abdelmassih, 65, pratica crimes sexuais
desde o início da carreira, há
cerca de 40 anos, e apenas preso irá parar de cometê-los.
Esse foi um dos argumentos
utilizados pelos promotores
para justificar o pedido de prisão preventiva apresentado ao
juiz Bruno Paes Stranforini, da
16ª Vara Criminal. O médico,
um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida
do país, está na carceragem do
40º Distrito Policial, na Vila
Santa Maria (zona norte de SP).
A defesa, que refuta as acusações, entrou com um pedido de
habeas corpus no Tribunal de
Justiça de São Paulo para tentar libertar Abdelmassih. A decisão -se ele continua ou não
preso- deve ser conhecida hoje (leia texto na página C7).
A afirmação da Promotoria
de que o médico pratica crimes
desde a década de 70 é baseada
no depoimento de uma mulher
de Campinas. O nome dela não
foi divulgado no documento.
A mulher procurou os promotores para contar que, há
quase 40 anos, teve cólicas renais e foi atendida no SUS. Segundo o depoimento, Abdelmassih, no começo de carreira,
era o médico de plantão.
Segundo a vítima, o médico
fez propostas sexuais e passou
o pênis por seu corpo. Mencionado pelos promotores como
exemplo de que Abdelmassih
tem uma personalidade voltada
para crimes sexuais, esse caso
já está prescrito.
Ao todo, o médico foi denunciado sob acusação de 56 estupros contra 39 mulheres. Uma
delas, a primeira a acusá-lo, era
funcionária da clínica. As outras eram pacientes.
A denúncia foi feita com base
em legislação que passou a vigorar no último dia 7, pela qual
passa a ser considerado como
estupro o crime que antes era
definido como "ato libidinoso".
Pela antiga lei, seriam 53 atentados violentos ao pudor (atos
libidinosos) e três estupros (em
que há conjunção carnal).
Nos depoimentos, as mulheres acusam o médico de tentar
beijá-las ou acariciá-las quando
seus maridos ou a enfermeira
não estavam na sala. Em três
casos há relatos de ato sexual.
Na denúncia, segundo pessoas que tiveram acesso ao documento, a Promotoria classifica o médico como frio e sem
freios morais.
Além dos crimes sexuais, Abdelmassih passou a ser investigado também por suspeita de
sonegação fiscal e pela suposta
execução de procedimentos
médicos não permitidos pela
legislação brasileira.
Ele é suspeito de fazer "sexagem" (método que permite a
escolha do sexo dos bebês) e
usar material genético de mulheres mais novas em mulheres
mais velhas (prática conhecida
como "turbinagem"), procedimentos não autorizados.
Na área fiscal, está sob investigação a afirmação de ex-pacientes de que a clínica do médico oferecia dois preços -com
ou sem nota fiscal. Sem nota, o
serviço seria mais barato. A defesa nega essas suspeitas.
Cárcere
Preso em uma das cinco celas
do 40º DP, Abdelmassih divide
com outro preso um recinto de
aproximadamente 25 metros
quadrados. Ao todo, seis presos
com curso superior estão no
distrito atualmente.
Desde que chegou, na noite
de anteontem, o médico se alimentou com os chamados
"bandecos", a alimentação fornecida ao preso pelo Estado.
Normalmente, o cardápio inclui arroz, feijão, carne -bife
ou frango-, pão e sobremesa
(banana ou gelatina).
Ontem, o motorista do médico levou roupas ao DP. Por estar à espera de vaga em alguma
penitenciária, Abdelmassih
não é obrigado a usar uniforme.
Caso a Justiça não revogue
sua prisão preventiva, o médico
deverá ser levado para a Penitenciária de Tremembé (147
km de São Paulo).
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