|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Garota, cuja gestação completa 4 meses, afirma que era estuprada sistematicamente por dois vizinhos desde os 7
Juiz autoriza grávida de 10 anos a abortar
MALU GASPAR
da Reportagem Local
A menina C.B.S, 10, grávida de
quatro meses, foi autorizada legalmente a abortar na semana passada, por um juiz da cidade de Israelândia, em Goiás, onde ela mora
com os pais. Desde os 7 anos, C.
era estuprada sistematicamente
por dois vizinhos, um de 52 e outro de 65 anos.
Foi a própria garota, apoiada pela família, quem decidiu que não
quer ter o filho, diz o juiz de Israelândia, João Geraldo Machado,
que assinou a sentença.
A decisão de Machado está
apoiada em laudos de dois médicos peritos, que sustentam que o
aborto é tão arriscado quanto a
continuidade da gestação.
C. é descrita tanto pelo delegado
que apurou o caso como pelo juiz
como uma menina franzina e frágil, com cerca de 1,40 m de altura e
cerca de 30 kg. Ela está matriculada na 3ª série do ensino fundamental numa escola pública local.
A gravidez só foi descoberta no
mês passado, depois que a menina
começou a passar mal e foi levada
ao posto médico da cidade. Ali, a
tia de C. descobriu que ela estava
com aproximadamente três meses
de gravidez.
Segundo o juiz João Geraldo Machado, que deu a autorização para
o aborto, tanto a menina quanto
os pais estavam irredutíveis na decisão de interromper a gravidez.
"Para eles, tirar esse bebê é um
alívio. A própria C. disse que a
criança foi feita à força e que não
quer que ela nasça."
Machado conta que ele próprio
chegou a oferecer ajuda financeira
para o tratamento médico e para o
enxoval, mas a família não aceitou. "Sou radicalmente contra o
aborto, mas nesse caso acho que a
sentença foi justa. Só quem está vivendo esse drama sabe o que sofre", diz o juiz.
Segundo a investigação policial
sobre o caso, os estupros ocorriam
constantemente, dia sim, dia não,
num barraco vizinho ao de C., na
periferia de Israelândia, que fica
192 km a oeste de Goiânia.
Uma amiga, N., de 11 anos hoje,
8 na época, contou que ia buscar
C. depois que os pais saíam para
trabalhar, levava a amiga ao barraco e ficava vigiando do lado de fora. N. disse que fazia isso a pedido
dos Benedito Soares Souza, 65 e de
José Benedito Afonso, 52. Depois
do estupro, as meninas ganhavam
R$ 1,00 e um saco de bolachas, diz
o delegado Antônio Machado de
Azevedo, investigou o caso.
Os dois acusados tiveram prisão
preventiva decretada e estão encarcerados na delegacia de Itaporá, a 25 km dali. Segundo o juiz de
Israelândia, a família de C. está revoltada com o que aconteceu com
a menina e transtornada com a repercussão do caso na vizinhança
da cidade, que tem 2.500 habitantes. C.B.S tem dois irmãos. A mãe
recebe R$ 90 ao mês e o pai está
desempregado.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|