São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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Ouvidoria tem mais denúncia de mortes

da Reportagem Local

Pela primeira vez, desde que a Ouvidoria da Polícia de São Paulo foi criada, em fevereiro de 96, o assassinato de pessoas envolvendo policiais militares e civis atingiu o primeiro lugar no ranking das denúncias.
Nos demais trimestres, segundo o ouvidor, Benedito Mariano, os casos de homicídios ocupavam o 13º lugar no ranking.
Esses e outros dados envolvendo a violência policial devem ser divulgados hoje pela ouvidoria, que está lançando o relatório trimestral -que compreende as denúncias recebidas entre julho e setembro de 99.
O órgão repassou ontem apenas as porcentagens das denúncias.
"Infelizmente, esse último trimestre foi o mais violento no Estado de São Paulo desde 96", afirmou Mariano.
No total, o órgão ouviu neste último trimestre 2.489 pessoas e encaminhou 1.185 denúncias para a Corregedoria da Polícia Civil (49,78%) e para a Corregedoria da Polícia Militar (49,35%).
Entre as principais reclamações registradas no trimestre contra policiais militares e civis foram: homicídio, conduta inadequada, abuso de autoridade, tortura e crimes sexuais.

Sem antecedentes
Um dado que chamou a atenção da Ouvidoria da Polícia de São Paulo, segundo Mariano, foi o número de vítimas mortas pela polícia sem antecedentes criminais.
"Neste último trimestre, 57% das vítimas não tinham antecedente criminal. A polícia alega que elas morreram durante confronto. O que assusta é que a maioria (70%) são jovens de 18 a 25 anos", disse o ouvidor.
Segundo ele, nos trimestres anteriores, os jovens dessa faixa etária representavam 50% das vítimas de homicídio.
Mariano alerta ainda para a mudança no perfil da vítima.
O ouvidor disse que houve um aumento significativo no número de negros mortos pela polícia, passando da média de 55% (calcula no primeiro semestre deste ano) para 62% dos casos.
"Nos dois últimos relatórios feitos pela ouvidoria, a porcentagem de vítimas negras e brancas era mais balanceada. Agora, a desproporção é muito grande", disse.

Crimes sexuais
Pela primeira vez a ouvidoria descreve no relatório trimestral quatro casos de crimes sexuais cometidos por policiais militares durante o serviço.
"O que mais impressionou é que as quatro denúncias chegaram à ouvidoria em um prazo de trinta dias. Isso nunca havia acontecido", afirmou Mariano.
O relatório mapeia também as regiões e as cidades mais violentas do Estado.
Segundo a ouvidoria, entre as regiões apontadas como as mais violentas da capital paulista estão a zona sul (27% das denúncias) e a zona leste (23%).
Na Grande São Paulo e no restante do Estado lideraram as cidades de Osasco e de Santos. (LC)


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