São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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POLÍCIA

Pesquisa mostra que pessoas armadas têm mais chance de ser mortas por ladrão do que as desarmadas

Vítima armada tem 56% mais risco de morte

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

Pesquisa inédita da Secretaria da Segurança de São Paulo revela que as pessoas que andam armadas têm 56% mais chance de ser mortas por ladrões do que aquelas que circulam desarmadas.
O estudo, encomendado pela secretaria para o núcleo de pesquisa do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), faz várias estimativas do risco do porte de arma.
Para isso, a pesquisa levou em consideração a população da cidade de São Paulo, de 1998, o número de armas registradas, estatísticas sobre apreensão de armas e boletins de ocorrência de todos os latrocínios (roubo seguido de morte) cometidos na cidade de São Paulo, no mesmo ano.
Segundo o levantamento, 18,2% da população da capital porta arma de fogo legal ou ilegal. Ou seja, 1,8 arma para cada dez habitantes. Em São Paulo, circulariam mais de 1,8 milhão de armas nessas condições.
Segundo o sociólogo e consultor da pesquisa Renato Lima, essa taxa de 18,2% da população armada funciona como uma espécie de "nota de corte". A partir dela, se estabelece a probabilidade de morrer ou sobreviver em um latrocínio.
As taxas acima de 18,2% representam maior risco de morte. Já as taxas inferiores, chance menor de morrer em um confronto.
Como 28,4% das vítimas de latrocínio possuíam armas de fogo, esse valor é 56 pontos percentuais superior à taxa da população que anda armada. Já apenas 13,8% das pessoas armadas conseguiram evitar o latrocínio.
Segundo Ana Sofia Schimidt de Oliveira, coordenadora de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança, apesar de a base da pesquisa ter sido a cidade de São Paulo, "os resultados podem ser generalizados, pois o trabalho não está condicionado a características exclusivas da cidade".
Para cada crime de latrocínio consumado com a vítima armada, foram geradas 2,2 vítimas. Já, quando se considera o total de casos de latrocínio consumados (vítimas armadas ou não), essa proporção é reduzida: 1,5 vítima para cada crime.
"Portanto, nos casos que envolvem vítimas armadas, existe um maior risco, não só dela, mas de outras pessoas morrem", afirma Renato Lima.
O levantamento diz que os dados se aproximam de uma pesquisa coordenada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em que o Brasil aparece como o país onde mais se mata com arma de fogo -88,39% dos homicídios seriam cometidos dessa forma. O levantamento também diz que o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas feridas por arma de fogo -247,15 por 100 mil habitantes.


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