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CIDADANIA
Mais nove vencedores conquistaram premiação inédita
Unesco dá prêmio para catadora de lixo de MG
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Uma catadora de lixo mineira
de 49 anos que só aprendeu a ler
ano passado é uma das dez vencedoras do Prêmio Unesco para Iniciativas Bem-Sucedidas, distribuído pela primeira vez neste ano.
O objetivo do prêmio é dar visibilidade a ações bem-sucedidas
nas cinco áreas cobertas pela entidade: ciência e meio ambiente, direitos humanos e paz, juventude e
cidadania, educação e cultura.
Maria das Graças Marçal foi
premiada na categoria ciência e
meio ambiente pelo trabalho desenvolvido na Asmare (Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis).
Desde os 8 anos, "dona Geralda" (nome pelo qual Maria Marçal é conhecida) cata lixo nas ruas
do centro de Belo Horizonte. Em
90, cansada de conflitos com fiscais da prefeitura que acusavam
os catadores de estarem sujando a
cidade, fundou a Asmare com
apoio da Pastoral de Rua.
A meta era conseguir um galpão
para que os catadores pudessem
armazenar e separar o material
que catavam, sem riscos de serem
roubados. Em seguida, venderiam papel, papelão e latas para a
indústria de reciclagem.
Os catadores da Asmare têm
um código interno rígido, cujo
cumprimento é fiscalizado por
"dona Geralda": manter os filhos
na escola, não transportar objetos
roubados no carrinho, não entrar
alcoolizado na associação, catar
pelo menos 100 kg de lixo por dia
e não dormir na rua.
As regras foram estabelecidas
coletivamente pelos catadores.
"Quando fundamos a Asmare, a
maioria dormia na rua porque
não tinha casa. Mas todos receberam empréstimo para comprar
lote ou construir um barraco e
hoje todo mundo tem casa."
Nove anos depois de fundada, a
associação tem três galpões, 230
associados e beneficia mais de mil
pessoas. Cada catador fatura entre dois e três salários mínimos.
A entidade oferece cursos noturnos de alfabetização para adultos, reforço escolar para crianças,
oficina de marcenaria para adolescentes e farmácia e mercadinho com preços subsidiados.
A própria "dona Geralda" só
aprendeu a ler no ano passado.
"Como trabalho desde os 8 anos,
nunca tive tempo de ir para a escola. E ainda tive de criar nove filhos", diz a vencedora.
Premiados - Educação: Programa Alfabetização Solidária e Zeca Camargo (jornalista).
Cultura: Sebastião Salgado (fotógrafo) e TV
Cultura. Direitos Humanos e Paz: dom Hélder
Câmara e Marcos Rolim (deputado federal,
PT-RS). Ciência e Meio Ambiente: Maria das
Graças e Paulo Nogueira (ambientalista). Juventude e Cidadania: Associação Brasileira
de Magistrados e Promotores da Infância e
da Juventude e Escola de Dança e Integração
Social para Crianças e Adolescentes.
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