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EXTREMOS DA INSEGURANÇA
Para autoridades, falta de policiais e de infra-estrutura são responsáveis pela violência
Cidades incharam e eficácia policial caiu
DA REPORTAGEM LOCAL
Em alguns trechos do litoral
norte de São Paulo, a rodovia SP-55 (conhecida como Rio-Santos)
torna-se um divisor de dois mundos bem distintos. De um lado,
próximos ao mar, veranistas e turistas. De outro, em áreas invadidas em morros do Parque Estadual da Serra do Mar, migrantes
que chegaram à região atraídos
por empregos criados pelo progresso do lado oposto da rodovia.
Nos últimos 20 anos, a população das quatro cidades do litoral
norte -São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba e Ilhabela- duplicou ou quase triplicou. No
mesmo período, o número de habitantes no Estado cresceu 44%.
No litoral norte, chegavam principalmente mineiros e nordestinos à procura de vagas nas construções ou para o setor de serviços. O inchaço populacional demorou para ser percebido pelas
prefeituras e pelo Estado, segundo avaliação de policiais, prefeitos
e líderes comunitários do litoral.
De acordo com eles, a falta de
infra-estrutura básica e o policiamento insuficiente nos meses de
baixa temporada são os responsáveis pelas estatísticas criminais
desfavoráveis na região.
Para o ex-vereador José Irineu
de Souza, 49, o Zezinho da Piscina, que mora do lado dos morros,
a violência cresceu porque o governo só se preocupa com o bem-estar dos habitantes que vivem
perto do mar.
"As regiões mais populosas estão abandonadas. [Os governantes] só olham para o bairro da Topolândia em época de eleição",
diz Souza. Quando ainda era vereador, ele chegou a ter um imóvel vazio incendiado por traficantes nesse bairro, um dos mais problemáticos de São Sebastião.
Para Cristiano Jarvelino de Almeida, 29, presidente da Associação de Moradores de Itatinga, no
bairro da Topolândia, as autoridades só sabem criticar a criminalidade da região.
"Mas não fazem nada. O esgoto
é a céu aberto e faltam áreas de lazer. Não há nada para oferecer aos
jovens", diz Almeida.
Infra-estrutura deficiente
O prefeito de São Sebastião,
Juan Manoel Pons Garcia (PPS),
admite que a crítica dos líderes
comunitários tem parcela de razão. "As últimas gestões investiram pouco em infra-estrutura urbana. Hoje, paga-se o preço."
Mas ele discorda que a população próxima do mar ainda seja alvo de privilégio. "Hoje, a prefeitura se preocupa com o moradores
dessas áreas sem descuidar do fato de que o turismo é importante
para a economia da cidade."
Para Francisco Machado, que
ocupava a presidência do Conseg
(Conselho Comunitário de Segurança) de Caraguatatuba até abril
deste ano, o problema da segurança se agrava na baixa temporada, quando os policiais que fazem
parte da Operação Verão voltam
para suas bases originais, em outros municípios do Estado.
Ele mesmo se diz vítima da falta
de policiamento. Em 2003, Machado flagrou três homens tentando furtar uma casa vizinha. Ele
gritou e colocou a mão no celular,
gesto que fez os ladrões acreditarem que ele estava armado.
Enquanto todos permaneceram
na calçada por quase meia hora,
um estudando a reação do outro,
a mulher de Machado telefonou
para a PM (Polícia Militar), que
disse que havia um evento na cidade e não tinha carro disponível.
"Eu entrei em casa e os homens
foram embora. Mas poderia ter sido muito pior se eles não achassem que eu estava armado. Eu fiz
uma reclamação para o comando
da PM, que confirmou a falta de
efetivo e o caso ficou por isso mesmo", diz.
(GILMAR PENTEADO)
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